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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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13 de Outubro, 2018

Yellowstone: O Poder de Kevin Costner

Sara

Apesar de dispensar apresentações, Kevin Costner só se estreou numa série de TV agora, aos 63 anos de idade, depois de uma passagem breve pela minissérie «Hatfields & McCoys» em 2012. Mais uma vez, um sinal claro de que a televisão é um player cada vez mais forte, e um desafio irresistível – narrativo e financeiro – para os maiores nomes da nossa 'praça'.

 

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O ator assume-se como o protagonista de «Yellowstone», onde interpreta o chefe de família John Dutton, um rancheiro norte-americano que está em conflito com as grandes corporações e a comunidade indígena. Se o ator nos habituou a brilhar em grandes monólogos e diálogos poderosos, em «Yellowstone» a sua personagem vive muito do silêncio e do poder da sua interpretação nesses momentos. E é bem-sucedida. Arriscarei, aliás, dizer que Costner seria capaz de segurar uma narrativa sem proferir uma única palavra.

 

Se a terra é que mais ordena em «Yellowstone», o sangue que corre nas veias surge com igual importância. A família Dutton é vasta e os atores que a compõem são de um nível superior, nomeadamente Kelly Reilly e Wes Bentley, mas o elenco de luxo não se fica por aqui. Entre os inimigos de John Dutton encontram-se Thomas Rainwater (Gil Birmingham) e Dan Jenkins (Danny Huston), sendo de assinalar também o regresso da “Patologista” Jill Hennessy, na pele de uma senadora. As paisagens rurais dos Estados Unidos, os animais e a banda sonora – que pouco aparece, mas que quando o faz é em força – fazem o resto.

 

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A disputa de terrenos, aliada ao seu valor monetário e ao poder que a sua posse representa, é o principal fio condutor da ação, que se vai desenvolvendo em torno dos conflitos da família Dutton. Quer pela ameaça dos maiores grupos empresariais, quer pela demonstração de força do novo líder índio, é certo que John Dutton não vai ter descanso… mas também não o vai dar. Além da narrativa principal, os criadores Taylor Sheridan («Hell or High Water» (2016)) e Stephen Kay desenvolveram de forma competente as linhas secundárias, com destaque para o romance entre Kayce Dutton (Luke Grimes) e uma descendente índia (Kelsey Asbille), do qual já resultou um filho, e para a figura imprevisível do criminoso Jimmy (Jefferson White), que permite desenvolver a trama em torno do lado negro do império de Dutton.

 

De resto, há um momento no primeiro episódio de «Yellowstone» que, sem diálogo ou banda sonora, sintetiza a profundidade e complexidade presente na série. Uma personagem segura outra, sem vida, nos braços; nesse momento, um pássaro pousa no campo ali perto e, mesmo sem grandes armas narrativas, a cena revela-se de um poder imenso – a dor, a vingança, a sede de justiça e, ao mesmo tempo, a paz com essa inevitabilidade. Estamos perante uma história comum, é certo, mas as camadas em que se multiplica tornam-na numa das séries mais atractivas na atual temporada televisiva. Lá fora estreou em junho, a Portugal chegou dia 6 pela mão do TVSéries, tendo lugar cativo na noite de sábado. A renovação para uma segunda temporada, essa, já está garantida.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis.