O Último a Rir: Podemo-nos Rir Se o Tema For o Holocausto?
A essência do documentário «O Último a Rir» (2016) reside, de forma sublime, nas palavras da produtora Roz Weinman. A certa altura, desarma-nos completamente (se não o estivéssemos já): se os sobreviventes do Holocausto, e os seus herdeiros, não aproveitarem a vida, será Hitler o último a rir. É, ademais, essa a defesa dos comediantes que habitam a narrativa ilustrada em palavras pela realizadora Ferne Pearlstein.
Mas há limites que nem Mel Brooks, que nos trouxe «Os Produtores», a demanda pelo pior espetáculo do mundo, onde, pelo caminho, se troçava com Hitler e os nazis, está disposto a ultrapassar. A dor do Holocausto é demasiado grande, pelo que quando figuras como Sarah Silverman ou Joan Rivers desafiam o socialmente aceitável, rapidamente se levantam vozes de descontentamento. Há viagens ao passado, há entrevistas na primeira pessoa, mas, em «O Último a Rir» (2016), há sobretudo histórias: tão pesadas com a terrível lembrança da morte de seis milhões de judeus.
Apesar da quantidade significativa de caras familiares, no centro está uma anónima, Renee Firestone, que sobreviveu a Auschwitz. Foi a única da sua família a escapar e, na Terra do Tio Sam, teve de encontrar forças para criar uma nova. Embora reconheça que é preciso ter humor – não haverá arma mais forte de vingança –, também ela não está disposta a permitir tudo em prol de uma boa gargalhada. Mas, afinal, podemo-nos rir se o tema for o Holocausto?
Realizador: Ferne Pearlstein
Origem: Estados Unidos
Duração: '88
Ano:2016
Este artigo foi originalmente publicado na edição nº48 da Metropolis, de junho de 2017. Texto completo na revista.