Emmys 2018: Muito Coração, Pouca (Ou Nenhuma) Razão
Há finais desportivas e há cerimónias de prémios – mas, para o meu coração, é quase tudo praticamente igual. Vou buscar os pompons da claque, visto a camisola e torço fervorosamente pelos meus favoritos. Já se sabe que isto das séries é quase uma religião e os Emmys são a grande missa do ano. Só que, neste caso, existem os santos da casa – e os outros.
Os bitaites da Marisa, do Em Banho Café*
Dito isto, é-me difícil ser racional nesta coisa de prever vencedores. É que a minha razão sabe quais são as melhores séries e elencos. Até vou espreitando probabilidades e consulto análises detalhadas sobre o painel de nomeados. Faço isso tudo, mas chega-se à Hora H e... é ver-me a proferir injúrias para o ecrã da televisão. Ou a vibrar, de lagrimazinha ao canto do olho, com o discurso apaixonante de vitória dos meus favoritos. Não há meio termo e ser neutro é não ter sangue nas veias (nem as séries no coração).
Posto isto, quando a Sara me pede uma previsão de vencedores, fico encalhada na minha dúvida clássica: sigo a razão ou o coração? É um dilema que não me é estranho. Todos os anos, um amigo meu (hey Quedas, és tu!) organiza uma competição pública de previsões dos Óscares (sim, também sou cheerleader nos prémios de cinema). A premissa é simples: há pontos em função da importância da categoria e quem tiver mais pontos é o vencedor. Simples, não? Não.
É que se sigo o coração, arrisco-me a atirar ao lado (que já se sabe que o amor é cego). Se sigo a razão, arrisco-me a torcer, durante a cerimónia, por quem não visto a camisola. Ou, pior, a sentir-me a maior vira-casacas da história dos seriólicos quando é, afinal, o meu favorito a subir ao palco e a receber a estatueta – e eu sem acreditar nele e a dar o meu palpite a outro qualquer. É um jogo em que, ganhe quem ganhar, eu vou sempre acabar por perder.
Entretanto, chegou sábado e o deadline dado pela Sara aproximou-se tão rapidamente como a Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) me conquistou depois de ser um odiozinho de estimação: nem dei por isso. É preciso escolher um critério e apontar previsões de vencedores. Fiz um-dó-li-tá e escolhi, para estes Emmys, seguir só o coração. Estes são os vencedores que quero mesmo, mesmo, mesmo que subam ao palco. Aqui estão (que este disclaimer já vai longo).
And the winner could (please let it) be...
Bitaite de Melhor série de drama: The Handmaid's Tale
Não há que hesitar. The Handmaid's Tale continua com um qualidade irrepreensível e um elenco do caraças. Cada plano é uma obra-prima de fotografia e a narrativa continua tão atual e pungente como o episódio piloto. Num mundo de muitos duques, obrigada por estas damas da televisão.
Bitaite de Melhor série de comédia:
O conceito dificilmente me levaria a ver a série (wrestling feminino dos anos 80, hello?), mas depois de começar não há como parar a maratona Netflix. Das purpurinas e cabelos dos 80s ao ringue mirabolante, damos por nós a torcer por cada uma daquelas lutadoras de fingir. Merece o Emmy (ou o cinto da vitória). Mas também fico feliz com uma vitória de Atlanta.
Bitaite de Melhor série limitada: The Alienist
Ainda na semana passada, andei de táxi em Lisboa de olhos vendados (não vamos falar disso). E, mesmo assim, senti-me menos no vazio do que quando olho para esta categoria. Não vi nenhum dos nomeados, à exceção de três episódios de The Alienist (de que até gostei bastante). Parece-me uma escolha... óbvia.
Bitaite de Melhor ator de drama: Jeffrey Wright
Sofri a bom sofrer para fazer um palpite (aguenta corazooon). Em qualidade, Westworld ganha a This is Us. Em emoção, This is Us ganha a Westworld. Ambas são vícios pessoais e ambas têm dois atores nomeados nesta categoria. É muito difícil criar a armadilha emocional que é This is Us, mas Jeffrey Wright merece um reconhecimento pelo que está a fazer em Westworld. A segunda season foi dele – e nem o Homem de Negro (Ed Harris, também de Westworld) lhe pode roubar isso.
Bitaite de Melhor atriz de drama: Tatiana Maslany
Outra categoria dura de roer. Como já disse, este foi o ano em que Elisabeth Moss levou a melhor sobre o ódio de estimação que lhe tinha. Nem há palavras para descrever a June que ela interpreta em The Handmaid's Tale. Mas Tatiana tem aqui a última hipótese de ganhar um segundo Emmy por Orphan Black (a série terminou em 2017) e pelas cerca de 20 personagens a que dá corpo, voz e alma. A acontecer, pode aproveitar o palco para fazer um pirete a Ryan Murphy que a convidou para entrar em Pose e depois lhe mostrou a porta de saída do estúdio. Vá, acho que todos sabemos que Moss vai ganhar este prémio limpa e justamente... mas uma rapariga pode sonhar!
Bitaite de Melhor ator de drama: Ted Danson
The Good Place tem passado relativamente despercebida, o que é uma pena. Mas quem perde são vocês (pessoas que não veem) e não nós, os fãs. Para esta última categoria, a minha previsão é óbvia – e começou numa certa gargalhada genialmente maléfica. Para todos os outros: cheers!
Bitaite de Melhor atriz de comédia: Tracee Ellis Ross
Por cada 10 dramas, dou hipótese a 1 comédia. Não que seja uma pessoa amarga (god, I hope not!), mas não me rio a qualquer uma. Posto isto, não tenho grandes emoções ou favoritas nesta categoria. Mas sei que, embora ninguém queira ter Bonnie Plunkett como mãe, não há como resistir à atriz que a interpreta: Allison Janney. Contudo, falando de mães inesquecíveis, vou estar a torcer por Tracee Ellis Ross, pelo trabalho hilariante em Black-ish.
Bitaite de Melhor ator de série limitada: Benedict Cumberbatch
John Legend e Darren Criss juntos? Dir-se-ia que é um dueto, mas não, é só uma categoria de Emmys muito bizarra, que junta este senhores de boa voz a clássicos como Antonio Banderas ou Jeff Daniels. Já vos confidenciei que não acompanhei muito do que se passou nisto das séries limitadas? Escolho o Benedict Cumberbatch porque o meu coração ainda está em 221b Baker Street (sim, a morada de Sherlock)... o que pode ser um motivo tão válido como qualquer outro (ou talvez não).
Bitaite de Melhor atriz de série limitada: Jessica Biel
Demorei até começar The Sinner, mas depois de começar não há como parar. E, apesar de Jessica Biel ser uma atriz razoável, a verdade é que se deve a ela o grande mérito de a série nos prender até ao último minuto do último episódio.
Bitaite de Melhor Ator Secundário de Drama: David Harbour
Esta era a oportunidade de escrever algo sobre Stranger Things e agarrei-a com unhas e dentes. A série, com aquele gosto tão bom aos anos 80, continua a deixar-nos colados ao grande ecrã, embora não tenha tanta sorte no que diz respeito a cerimónias de prémios. Talvez seja desta que David Harbour quebre o enguiço e suba ao palco em nome próprio. Aquele xerife-herói, que lembra um pouco a aura de Indiana Jones, bem merece.
No entanto, apenas tenho uma exigência: que leve a Winona Ryder consigo. Precisamos de ver novamente aquelas caras que a atriz fez no discurso de Harbour, a agradecer o prémio em nome do elenco, nos SAG Awards. Confusos ou a precisar de uma gargalhada? Aqui está: https://www.youtube.com/watch?
Bitaite de Melhor atriz secundária de drama: Yvonne Strahovski
Segurem-se que as coisas voltam a ficar complicadas. Antes de olhar para as nomeadas, tinha a certeza de que The Handmaid's Tale devia ganhar aqui. Ainda tenho a mesma opinião, mas as coisas complicaram-se: não há uma, nem duas, mas três nomeadas da melhor série do momento (a meu ver, claro, mas a Sara deu-me carta branca para difundir a minha opinião como se fosse a última batata do pacote). E agora? Até sinto uma gota de suor em sítios menos apropriados. O drama é real e estou tão em xeque como daquela vez em que, na primária, tive de escolher entre as minhas melhores amigas para fazer equipas de pisa-pisa-pé (plot twist: não correu bem).
Mas pronto, é respirar fundo e lidar. Entre Alexis, Ann e Yvonne, vou dar o mérito onde o mérito deve estar. A Serena de Yvonne foi incrível nesta segunda temporada e, a seguir a June, agarrou todas as atenções. A evolução da personagem ajudou à festa, mas todos sabemos que mesmo os melhores argumentos podem ser estragados por maus atores. Não foi o caso: Yvonne agarrou a oportunidade, fintou e marcou. Foi a Cristina Ferreira das séries. Mas em bom.
(Tenho os pompons a postos para qualquer uma das damas nomeadas de The Handmaid's Tale, só para que não reste qualquer dúvida.)
Bitaite de Melhor ator secundário de comédia: Alec Baldwin
Não deve repetir o êxito do ano passado, mas não há como resistir ao Trump de Alec Baldwin. Até porque, a ganhar, devemos ter direito a um tweet em caps diretamente da casa do POTUS.
Bitaite de Melhor atriz secundária de comédia: Kate McKinnon
Lembram-se quando partilhei que não tenho gargalhada fácil? Pois bem, isso é só até me deparar com as expressões de Kate em Saturday Night Live. Ela é humor em estado puro e isso merece ser celebrado. Perante a impossibilidade de ser a BFF de Kate, resta-me a the next best thing: apoiar a sua caminhada até à vitória.
Bitaite de Melhor ator secundário de série limitada: Jeff Daniels
Nops, não vi nenhum dos nomeados em ação. Mas admiro o Jeff desde The Newsroom e tenho uma secreta esperança que ele volte a receber um prémio enquanto masca pastilha elástica. Ou que se aventure por terrenos nunca explorados e chegue ao palco a trincar um belo de um bife. Até porque tanta hora de cerimónia deve dar uma certa larica.
Bitaite de Melhor atriz secundária de série limitada: Sara Bareilles
Adorei a Leticia Wright em Black Museum (Black Mirror), mas depois encontrei a Sara Bareilles na corrida. E não, não vi o Jesus Christ Superstar Live in Concert (o mesmo que deu uma nomeação ao John Legend), mas estou a votar com o coraçãozinho. E nada dá mais cabo do meu coração do que isto: https://www.youtube.com/watch?
Eu sei, não é um motivo muito justo. Mas todos sabemos que o coração tem razões que a razão desconhece.
* A Marisa nasceu nos anos 80 e desenvolve ligações emocionais com personagens ficcionadas da televisão. O que, na prática, significa que já chorou horrores com Alf, McGyver, Alex P. Keaton, a tripulação do Love Boat ou com as maravilhosas Golden Girls. Continuou a tradição ao longo dos anos 90 e, mesmo sendo fã incondicional de X-Files, foi com The Pretender que se tornou uma seriólica. Ainda não superou o final genial de Six Feet Under nem o final abrupto de Pushing Daisies. É que isto do bounding com a televisão tem os seus momentos críticos… e ninguém nos prepara para o adeus (ou para a cabeça decepada do Ned Stark).