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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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01 de Maio, 2020

Betty: O Mundo Feminino do Skate a Partir de Nova Iorque

HBO Portugal

Sara

Estreia amanhã, 2, na HBO Portugal uma série que tem como inspiração basilar o incrível filme indie «Skate Kitchen» (2018). Tive acesso antecipado à primeira temporada, que tem um novo episódio semanalmente ao sábado.

 

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Há duas questões a que importa dar resposta antes de avançar com a review dos seis episódios que compõem a T1 de «Betty»: é preciso ver o filme primeiro?; a série é uma continuação da história de «Skate Kitchen» (2018)? Lembramos que este filme marcou a cerimónia de encerramento do festival Queer Lisboa em 2019.

 

Embora «Betty» aproveite as principais personagens do filme, tal não significa que a sua visualização seja obrigatória, ou essencial para perceber a história que nos vai ser contada – até porque as storylines não têm ligação direta entre si. A série desenvolve a narrativa a partir das personagens estreadas no filme, mas ignora a ação da longa e leva a que as envolvidas se conheçam pela primeira vez. Ainda assim, é recomendável ver o filme para perceber ao que vamos, bem como o passado das protagonistas femininas. Além disso, «Skate Ktichen» (2018) dá também várias pistas em relação ao que podemos esperar da nova estreia da HBO.

 

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Crystal Moselle, que se estreou nas longas com «Skate Kitchen» (2018), volta a colocar-se atrás das câmaras para recontar a história de Kirt/Kurt (Nina Moran), Janay (Dede Lovelace), Camille (Rachelle Vinberg), Honeybear/Ruby (Kabrina Adams, Moonbear) e Indigo (Ajani Russell), entre outras personagens que regressam de passagem. A ela junta-se, na criação, Lesley Arfin, uma das responsáveis pela popular «Love» – então ao lado de Judd Apatow e Paul Rust. É muito o que permanece, ainda assim, de «Skate Kitchen» (2018), com destaque para a ausência de Jaden Smith e Elizabeth Rodriguez («Orange is the New Black»), dois dos intervenientes mais marcantes na jornada inicial do “gangue” feminino do skate. A saída de Elizabeth marca também a descida de Camille, a principal protagonista do filme, a uma categoria secundária e mais equilibrada em relação ao restante cast.

 

Mantendo a vibe indie e um estilo mais cru e natural de argumento e realização, o prolongamento da narrativa traz um maior desenvolvimento a cada personagem, nomeadamente Ruby (agora Honeybear) e Indigo. A série mantém o estilo da longa-metragem a vários níveis, mas intensifica a atenção dada a storylines de segunda linha, como o movimento me too – e o impacto na sociedade ao nível do tratamento dado a possíveis vítimas –, a marginalização das raparigas na prática de skate – a não ser que se comportem como one of the guys – e o preconceito perante o comportamento não estereotipado/adequado (ilustrado perto da perfeição no último episódio da T1).

 

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Apesar da qualidade por detrás de «Betty», é de esperar que esta não seja uma série para toda a audiência. A generalidade dos temas abordados falam mais intensamente com a audiência feminina (ou outras pessoas habitualmente tidas como outsiders), ainda que possa funcionar como uma nova perspetiva para o público masculino. No fundo, assim como acontece na trama, o propósito da série é unir um grupo onde cada um dos seus elementos se sente – ainda que de formas diferentes – marginalizado, para mostrar que ninguém está sozinho. Sem, para isso, ignorar os comportamentos de risco e outros lugares-comuns que marcam a adolescência.

 

O que significa betty? Expressão do calão para referir um pessoa do sexo feminino, normalmente adolescente, que anda em skateparks e se veste como uma “skater”, mas não faz grande coisa além de ver e rir, ou agir de forma promíscua. O título é portanto, em si mesmo, uma ironia e aponta diretamente ao que critica.

 

 

Texto originalmente publicado aqui.