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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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26 de Julho, 2017

Amigos de Faculdade: Não Devemos Voltar aos Locais Onde Já Fomos Felizes

Sara

Há um conselho, passado de geração em geração, que se usa amiúde e se apresenta de forma muito simples: não devemos voltar aos locais onde já fomos felizes. No entanto, é difícil falar de «Amigos de Faculdade», a nova série de Cobie Smulders, sem lembrarmos o seu maior sucesso, «Foi Assim Que Aconteceu», que terminou há três anos. Mesmo que quiséssemos evitar a comparação cliché, a verdade é que isso rapidamente se afiguraria uma missão impossível. À primeira vista, «Amigos de Faculdade» aparenta ser uma versão mais adulta da história de Carter Bays e Craig Thomas. Depois de vermos o primeiro episódio (e os seguintes) temos a certeza.

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«Seinfeld», «Friends», «Foi Assim Que Aconteceu» e «A Teoria do Big Bang». Estes são apenas alguns exemplos de séries de comédia moldadas em torno de um grupo de amigos e que, à sua maneira, nos acompanharam em diferentes alturas das nossas vidas. A fórmula está longe de ser nova e, a bem da verdade, também estamos - para já - longe de nos fartarmos dela. [Quem nunca parou numa (ou várias) destas séries quando estava a fazer zapping?] Ainda assim, não falamos de uma relação 'gratuita': por mais simples que possa ser a sua estrutura narrativa, sem grandes complexos de continuidade, a comédia tem de nos dar algo em troca, nomeadamente através das suas personagens. É aqui que falha «Amigos de Faculdade», uma das mais recentes apostas da Netflix, cuja primeira temporada foi lançada na sua totalidade no passado dia 14.

 

A atração principal de «Amigos de Faculdade» era ter Cobie Smulders no elenco. Ponto. Tal foi usado (além do necessário) desde o primeiro momento, de forma a promover a série perto do seu público-alvo: quem assistia a «Foi Assim Que Aconteceu». A estratégia não passou daí e, como resultado, a sinopse foi guardada no segredo dos deuses - apenas sabíamos que se tratava de um grupo de amigos, na casa dos quarenta, em que todos se conheciam desde a Universidade de Harvard. A um núcleo, muito específico, talvez interessasse o regresso de Fred Savage, que não tinha conseguido voltar à ribalta depois do fim de «The Wonder Years», em 1993. Já as comparações à antiga série de Cobie, que decorreu entre 2005 e 2014, foram inevitáveis - mas não era isso que a Netflix pretendia? Tudo em prol das audiências. O pior é quando carregamos no play.

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Se antes Ted Mosby contava a história de como conheceu a mãe dos filhos, agora estamos perante uma massa mais homogénea, e adulta, ainda que sustentada por uma storyline principal. Logo na abertura de «Amigos de Faculdade», ficamos a saber que Ethan (Keegan-Michael Key) e Sam (Annie Parisse) mantêm um caso amoroso há 20 anos. Tudo normal, não fosse Ethan Turner casado com Lisa (Cobie Smulders). A situação, por si só já bastante complicada, tem tudo para piorar quando o casal Turner decide mudar-se para Nova Iorque, com o grupo de amigos a ficar novamente completo. Também por isso, a dupla de amantes provoca algumas das maiores gargalhadas dos primeiros episódios, que mais não seja pela sua falta de sorte crónica. Ainda assim, os dois são apresentados sem qualquer profundidade, demasiado presos à sua relação, que é explorada até ao tutano e em torno da qual tudo acontece. Fica sempre a faltar algo e, por mais que se prometam respostas, a rotina cíclica dos episódios pode levar a que o riso seja substituído pela impaciência.

 

No entanto, a falta de densidade das personagens é uma falha geral. Os homens são tendencialmente machistas e egocêntricos e, pelo meio, as mulheres são elementos acessórios e surgem frequentemente em situações de stress. No fundo, a ação avança à boleia de Ethan, que transporta Sam a reboque e, a espaços, traz os restantes elementos para a 'discussão'. Embora se possa considerar um mal necessário para o arranque e contextualização da narrativa, partindo do básico para o mais complexo, esse é um dos motores da rotina previsível em que se transforma «Amigos de Faculdade»; à qual continuamos a assistir pela qualidade do elenco. E, mais uma vez, pela promessa de que os pontos levianos vão ser ligados no final da viagem.

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Não se trata de apontar à nova série da Netflix os erros que desculpámos no passado a outras. Da mesma forma, não se pode perdoar que, com um manancial tão grande (e tão rico) de comédias, se recaia numa narrativa simplista e perigosamente estereotipada. As personagens e os espaços vão-se encaixando, como um puzzle demasiado fácil, mas demoramos a perceber que imagem vai surgir do encontro das peças. Na verdade, «Amigos de Faculdade» resume-se numa frase só: trata-se de uma história com potencial, mas feita de personagens desinteressantes e sem carisma. Não chega ter um bom elenco, assim como ter uma estratégia de marketing bem direcionada pode funcionar como uma armadilha em si mesma. Os fãs de Cobie, tal como eu, até podem ter ido à boleia do hype, mas há uma pergunta inevitável: será que ficam?

 

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