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TV KILLED THE CINEMA STAR

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18 de Abril, 2019

A Guerra dos Tronos: O Inverno Só Agora Está a Começar (Review)

Sara

A série mais popular da atualidade regressou na madrugada de segunda-feira, 15, pela primeira vez com estreia em simultâneo com os Estados Unidos. Falha da HBO Portugal acabou por marcar o rescaldo do episódio.

 

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Depois de uma ausência de 595 dias, «A Guerra dos Tronos» voltou para a temporada de despedida. No entanto, a festa acabou por ser abalada por um atraso de 70 minutos da HBO Portugal, que não disponibilizou o episódio à hora anunciada (às duas da manhã); já o Syfy cumpriu e exibiu o episódio legendado ao mesmo tempo que este dava nos Estados Unidos. Embora se tenha tratado de uma falha da HBO em vários pontos do globo, a incidência dos meios de comunicação portugueses no erro do serviço de streaming desviou bastante as atenções do primeiro episódio da oitava temporada. Não há dúvidas: a 'guerra' está aberta – e não falamos apenas do pequeno ecrã –, sendo que a HBO e o Syfy disputam acerrimamente as audiências, com o segundo a vencer o primeiro round.

 

O fenómeno de «A Guerra dos Tronos» é incrível. A tal ponto que, mais uma vez, a HBO não foi capaz de 'aguentar' a procura e o serviço acabou por ir abaixo. Nem mesmo o facto de o problema já ter acontecido em 2017 serviu de lição. Para a semana, há novo episódio ao mesmo tempo que nos Estados Unidos, às duas horas de segunda-feira, tanto na HBO Portugal como no Syfy. Enquanto o serviço de streaming disponibiliza o episódio de forma definitiva, o Syfy não tem direitos para gravação e rewind – atribuídos pela HBO-mãe –, algo que foi contornado na NOS pelo videoclube e noutras operadoras pelas aplicações móveis. Para quem não quer perder uma boa noite de sono ou improvisar durante o dia, e se conseguir sobreviver aos spoilers que invadem tradicionalmente a Internet, o Syfy repete o episódio todas as segundas-feiras às 22h15.

 

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Inverno sem temporal: teorias e outras considerações

 

O primeiro episódio da oitava e última temporada passou quase despercebido em termos de acontecimentos relevantes, mas não tenho qualquer dúvida que, após a series finale, o vamos ver com outros olhos. A forma como Bran (Isaac Hempstead Wright) observa Jaime (Nikolaj Coster-Waldau), por exemplo, pode revelar-se determinante. Como o mais novo dos Stark afirmou, ele já não é Bran, mas sim o Three-Eyed Raven, não se tratando portanto de uma reação emocional ao que Jaime lhe fez no arranque da trama, quando o miúdo o apanhou a fazer sexo com a irmã Cersei (Lena Headey), e tudo o que isso despoletou. Bran terá visto, em vez disso, algo do passado ou futuro do Lannister que o perturbou de alguma forma.

 

Também podemos referir o discurso de Arya (Maisie Williams) a Jon Snow (Kit Harrington) sobre Sansa (Sophie Turner). Anteriormente sempre às 'cabeçadas' com a irmã, a lady que virou assassina defendeu que Sansa era, talvez, a pessoa mais inteligente que conhecia. Os paralelismos de «A Guerra dos Tronos», saga imaginada por George R.R. Martin, com a história do Reino Unido leva muitos a apostar na presença de Sansa no Trono de Ferro no fim da série, numa associação a Isabel I e Isabel II. Por sua vez, e no campo das suspeitas, se Arya não aparecer simultaneamente com outra personagem, no mesmo espaço e em diferentes cenas, irei sempre desconfiar que ela poderá ter matado essa personagem e assumido a sua cara. A jovem encomendou ainda uma arma específica a Gendry (Joe Dempsie), que também está de regresso, pelo que resta perceber o que vem daí.

 

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Não há dúvidas de que Arya tem potencial para assumir ainda maior destaque na última temporada, sendo que há muito espaço para surpresas. Resta, por exemplo, saber se será ela a matar Cersei. Que a atual rainha morre é praticamente uma certeza, já que a profecia rezava que ela teria três filhos, ia ver todos morrer, e depois morreria às mãos daquele que se pensou, na altura, ser o irmão mais novo. Se Tyrion (Peter Dinklage) se revelar um Targaryen, como muitas teorias apontam, as atenções ficam postas em Jaime – mas não poderá Arya matá-lo e assumir mais tarde a sua figura? Ou terá a profecia um significado mais profundo?

 

“Winterfell”, o episódio inicial da temporada 8, é sobretudo de contexto. E só tem a ganhar com isso. Os criadores David Benioff e D.B. Weiss organizam o jogo pela última vez, contextualizando o inverno que se avizinha e, qual jogo de xadrez, colocam as peças no local onde pertencem, com a Armada dos Mortos a assumir já algumas jogadas contundentes. Os argumentistas optaram, e ainda bem, por colocar desde já Jon com o mesmo conhecimento do público, ao ouvir de Sam Tarly (John Bradley) que é o herdeiro ao Trono de Ferro. Embora o romance com a tia possa chocar, a verdade é que os Targaryen sempre foram conhecidos por relações incestuosas, pelo que não é desde logo garantido um ponto final no casal-sensação da série. Deverá ser, ainda assim, uma questão de poder: Daenerys (Emilia Clarke) abdicou de demasiadas coisas, perdeu e lutou muito, para agora desistir de ser rainha dos Sete Reinos.

 

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Conhecido como a personagem que "não sabe nada", Jon Snow pode ser agora uma figura honesta, e colocar logo Danny a par do que sabe, ou ser estratega com pés e cabeça pela primeira vez, ou simplesmente evitar distrações. O filho de Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark, que sempre viveu como bastardo, encontra-se numa posição que desconhece e, perante a aproximação rápida do Rei da Noite, não deverá querer dispersar as atenções da grande luta. Por sua vez, montou um dragão e, se a teoria de que apenas os Targaryen o podem fazer não está confirmada, pode acontecer que os dois se tenham ligado e, ironicamente, Rhaegar obedeça a Jon. Também Jaime, que assassinou o pai de Danny e avô de Jon, é recebido com desconfiança mas, em hora de necessidade, este conflito deverá ser deixado para mais tarde. Já Tyrion continua a ser uma personagem-mistério, que a qualquer momento poderá denunciar a sua verdadeira face e, então, tudo aquilo a que assistimos nas últimas temporadas ganhará outro sentido.

 

Contas feitas, o regresso de «A Guerra dos Tronos» não foi memorável. Sem mortes chocantes ou revelações surpreendentes, o episódio de arranque cumpriu o seu propósito como catalisador da narrativa que, a partir do terceiro capítulo, deverá disparar a alta velocidade. É também nessa altura que os episódios começam a ter uma duração maior, na casa da 1h20, com a ação a ter o ponto final derradeiro no dia 19 de maio. No entanto, não desesperem: em breve começam as prequelas e, perante o sucesso de «A Guerra dos Tronos», não deveremos ter de esperar muito por mais séries. A dúvida é se George R.R. Martin consegue acabar a saga literária entretanto. E quantas personagens morrem até ao final da temporada. Conselho: se estiverem à espera que todos morram, qualquer sobrevivente é motivo de festa.

 

 

Texto originalmente publicado na Metropolis.