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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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30 de Abril, 2020

Hollywood: uma carta de amor ao cinema (que nunca existiu) - Review

Netflix Portugal

Sara

Tive acesso antecipado, pela Metropolis, à minissérie «Hollywood», que será disponibilizada na totalidade amanhã, dia 1, na Netflix Portugal. Podem ler o que achei da nova aposta de Ryan Murphy, no texto abaixo.

 

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Por detrás de todas as artimanhas da narrativa e das liberdades criativas que Ryan Murphy e Ian Brennan (que já tinha criado com ele e Brad Falchuk «The Politician», também para a Netflix) emprestam ao passado de Hollywood, há uma verdade absoluta: o sonho de vingar no Cinema. Em ambiente de Pós-Guerra, os norte-americanos apressavam-se de todos os cantos do país, muitos deles veteranos saídos de combate, para tentar a sua sorte entre os grandes estúdios de Hollywood. Primeiro entre uma multidão em desespero que aguarda um pequeno papel de figuração, depois entre empregos falhados e oportunidades fortuitas.

 

Antes do arranque da ação propriamente dito, há um primeiro episódio que instala este contexto e o torna mais real para a audiência. Como rosto principal, o menino bonito da estreia de Murphy na Netflix, David Corenswet – que, desta vez, tem mais sorte do que na trama protagonizada por Ben Platt. Encantado com o sonho de ser ator, é apenas mais um entre centenas; mas até onde estará disposto a ir para ser bem-sucedido? A resposta está num Dylan McDermott («American Horror Story»), um bon vivant misterioso que gere um bordel, no mínimo, particular.

 

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Depois do fracasso de atores do cinema mudo com a entrada do som, não chega apenas ser bonito. Exige-se que os atores saibam representar, que sejam naturais na sua interpretação e que “cortem” com as expressões e reações exageradas da era anterior. Como tal, a vida facilitada de Jack (Corenswet) não é mais do que uma miragem, atendendo à quantidade de pessoas belas que se apressam para Los Angeles em busca de uma vida de glamour. Quando dá por si, Jack está preso numa teia de mentiras e está lançado o mote para a história que Ryan Murphy quer contar em «Hollywood».

 

Entre o elenco principal encontramos Darren Criss (que venceu o Emmy com «American Crime Story: Versace»), que se tem afirmado com mais um dos atores favoritos de Murphy, o super-produtor que conta com uma lista vasta de estrelas em estreia absoluta ao seu lado ou que o voltam a reencontrar no pequeno ecrã. A lista de talentos atravessa gerações e é extensa; apenas para mencionar alguns: Holland Taylor, Rob Reiner, Patti LuPone, Joe Mantello, Mira Sorvino e Paget Brewster, além dos jovens promissores Laura Harrier, Jeremy Pope e Samara Weaving.

 

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Apesar da persistência dos estereótipos próprios daquele tempo – a atriz afro-americana no papel persistente de empregada, os norte-americanos brancos na linha da frente, os homens nos cargos decisórios – é claro, desde cedo, que o foco de Murphy e companhia é outro. Com protagonistas outsiders, Murphy deixa a nu a podridão instalada nos estúdios e a forma como os mais fracos acabam por ser manipulados e, ainda que com uma falsa ilusão de escolha, são arrastados pela vontade de quem tem poder. Na promessa, lá está, de um sonho hollywoodiano ao nível de Vivien Leigh (Katie McGuinness ) ou George Cukor (Daniel London), mas também perante dos testemunhos do fracasso de Anna May Wong (Michelle Krusiec), Hattie McDaniel (Queen Latifah) e, sobretudo, Peg Entwistle, uma atriz galesa que se suicidou atirando-se do emblemático sinal de Hollywood.

 

Longe de querer escrever uma biografia, Ryan Murphy apropria-se de figuras reais – não para as construir para a audiência, por assim dizer, mas sim para as celebrar e lembrar a marca que deixaram (e podiam ter deixado) em Hollywood, bem como os problemas e preconceitos que viveram. Entre as figuras recuperadas para a TV, está o canastrão Rock Hudson (Jake Picking), que sofreu durante décadas o preconceito e homofobia da indústria, a dar os primeiros passos bem longe de casa. É aqui que entra um dos “monstros” mais reconhecidos daquela era: Henry Wilson, um super-agente que abusava dos seus clientes com a promessa de que só ele os conseguiria ajudar no meio. Está aqui uma das surpresas do casting em «Hollywood»: um dos grande vilões da narrativa é interpretado por Jim Parsons, ainda muito colado pelo público ao seu Sheldon Cooper de «A Teoria do Big Bang». Apesar de fazer um trabalho competente, a personagem continua ainda muito marcada e será difícil cortar com esta associação quase inconsciente por parte da audiência.

 

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Com grande destaque para os incríveis fatos e caraterização da série, em linha o imaginário que ainda hoje persiste daquela época, a viagem ao passado de Hollywood é credível e mostra lados que – embora vinculados e manipulados pela ficção – de facto existiram e tantas vezes foram ocultados. A homossexualidade marginalizada – e usada como instrumento de poder por homens brancos em cargos de topo –, o racismo nos castings e na gestão de oportunidades, as ameaças dos grupos extremistas e a banalização das pessoas que corriam para LA em busca do sonho de uma vida são alguns dos exemplos. Com uma dose extra de dramatismo e glamour, ao estilo do que Murphy já nos habituou.

 

 

24 de Abril, 2020

Penny Dreadful: City of Angels - Os Monstros que nos Sussurram ao Ouvido

HBO Portugal

Sara

Fiquem a saber a minha opinião sobre os primeiros três episódios de «Penny Dreadful: City of Angels», que estreou mais cedo do que o previsto e já tem o primeiro ep. disponível em HBO Portugal. Quase quatro anos depois do final de «Penny Dreadful», o seu criador regressa com um spin-off bem diferente da série que o precede.

 

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Vistos os três primeiros episódios do aguardado spin-off «Penny Dreadful: City of Angels», há duas indicações fortes do argumento em relação àquilo que podemos esperar da próxima aposta da Showtime, que em Portugal é exibida pela HBO. Por um lado, a série de John Logan não tem muito a ver com «Penny Dreadful», que focou personagens incontornáveis como Frankenstein, Drácula ou Dorian Gray, pelo que fica já o aviso que os fãs vão encontrar uma trama bem diferente. Por outro lado, isso não põe em causa a qualidade do spin-off, que promete bastante com o primeiro episódio e consolida a sua storyline nos que se seguem.

 

Penny Dreadful é uma referência aos folhetos baratos da Inglaterra Vitoriana – que custavam um "penny" –, e retratavam uma aventura violenta ou crime. Com a ação localizada em 1938, não há mais do que um eco da série de êxito de Logan, na "Cidade dos Anjos" – a segunda parte do nome –, Los Angeles. É certo que o sobrenatural continua a assumir um lugar de destaque, e agora é o crescimento do Evangelismo que se destaca (numa nova abordagem à religião), mas é difícil encontrar mais do que esta ligação conjetural. Mas será que uma série só tem qualidade quando corresponde às expetativas de quem a vai ver? Não necessariamente.

 

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Mudando o contexto, muda a abordagem. Avança-se no tempo e a “saga” de «Penny Dreaful» acompanha a dinâmica do tempo e do espaço. Adapta-se ao espírito mais sombrio depois dos “loucos anos 20”. Há a sombra da guerra, a ameaça europeia de Adolf Hitler, o crescimento do mercado por detrás do Evangelismo e a xenofobia instalada. Perante o caos, surge o demónio misterioso, interpretado por Natalie Dormer («Game of Thrones», «Elementary»).

 

"Vai chegar uma altura em que o mundo vai estar preparado para mim", profetiza a voz de Dormer na abertura. Não demoramos a perceber que esse momento chegou. Não há monstros inesperados a atuar nos bastidores – as pessoas já possuem a maldade dentro delas, só precisam de “sussurros”. E é aí que entra Dormer, assumindo diferentes personagens para influenciar várias áreas de LA.

 

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Na “Cidade dos Anjos”, a comunidade mexicana e as autoridades locais estão em choque (com o Nazismo em crescimento exponencial). Na linha da frente está Tiago Vega, um “chicano” que se torna polícia e é interpretado pelo promissor Daniel Zovatto de «Here and Now». No seu primeiro dia é chamado a analisar uma cena de crime: o homicídio de uma família de Beverly Hills de forma aparentemente ritualística, com ligação ao imaginário mexicano. Este é assumido desde o primeiro momento como um aspeto core da trama, que tem na Santa Muerte (Lorenza Izzo) o seu principal bastião. Todavia, desengane-se quem acha que esta vai ser uma luta do Bem contra o Mal. Para já, os humanos estão por sua conta perante a ameaça do diabo encarnado em Natalie Dormer. A Santa Muerte é uma figura apática e sombria.

 

No elenco reencontramos Rory Kinnear – a criatura de «Penny Dreadful» – agora um médico com ligações nazis, além de Nathan Lane como polícia judeu (procurando desmascarar a conspiração na cidade) e Adam Rodriguez, o irmão mais velho de Tiago.

 

 

Originalmente publicado na Metropolis

 

22 de Abril, 2020

Reality TV | We’re Here: Uma Nova Série para os Fãs de RuPaul

HBO Portugal

Sara
Tive acesso antecipado a «We’re Here», a nova aposta da HBO Portugal, que tem o primeiro episódio disponível esta quinta-feira, 23.
 

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Shangela, Eureka O’Hara e Bob the Drag Queen, três ex-participantes do reality «RuPaul's Drag Race», são agora as figuras principais de uma série na mesma linha, «We’re Here». O trio invade localidades conservadoras e aparentemente mais inacessíveis, com o objetivo de concretizar o sonho de alguns habitantes, bem como de desafiar o preconceito presente nas comunidades. Cada episódio termina com um espectáculo de drag queens, onde os selecionados dessa localidade mostram o que aprenderam com bastante criatividade e ousadia à mistura.
 
Há muita exuberância e cenografia, mas a principal storyline da série é a componente dramática. Todos os participantes explicam o que os motivou a aderir ao desafio, e nem sempre são pessoas à espera dessa oportunidade – tantas vezes inacessível em meios mais pequenos e fechados à diversidade. Muitas vezes tratam-se de homens e mulheres comuns, que assumem o desafio para melhor perceberem as dificuldades que sentem os elementos da comunidade LGBTQ.
 

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Uma série reality que tem um público-alvo muito específico e que, na linha do que tem sido o império estabelecido por RuPaul, não desilude.
 

 

 
Texto originalmente publicado na Metropolis
 
19 de Abril, 2020

#BlackAF: Uma Comédia “Meta”, por Kenya Barris

Netflix Portugal

Sara

Estreou na Netflix esta sexta-feira, 17, e traz o criador de «Black-ish» a fazer dele próprio. A série é a primeira do autor, que se mudou de armas e bagagens da ABC para o serviço de streaming.

 

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De momento, a Netflix parece ter todos os trunfos para disparar na linha da frente em relação ao seu principal concorrente direto, a HBO. Não contente com o “roubo” dos todo-poderosos Ryan Murphy (que já se estreou com «The Politician» e se prepara para lançar «Hollywood» e «Ratched») e Shonda Rhimes (que este ano deverá estrear «Bridgerton»), a Netflix foi ainda buscar o autor mais prolífico de séries de temática afro-americana: Kenya Barris. O produtor/criador é sobretudo conhecido por ser a mente por detrás de «Black-ish» e dos seus spin-offs, «Grown-ish» e «Mixed-ish», ainda que a sua carreira tenha começado no final dos anos 90 e se tenha estabelecido com o reality «America's Next Top Model», de Tyra Banks.

 

A primeira série de Kenya Barris na Netflix, «#BlackAF» – cuja primeira temporada já está disponível na sua totalidade no serviço de streamingé uma versão “meta” do próprio criador, que se estreia na representação a fazer dele próprio. Numa mistura entre «Curb Your Enthusiasm», «The Office» [como esquecer os olhares de “julgamento” para a câmara] e «Modern Family», mas na perspetiva de uma família afro-americana. Barris ilustra na tela o estereótipo típico de novo rico – que, sendo afro-americano, enfrenta desafios inusitados por esse facto –, adicionando várias camadas de discussão sobre racismo e escravatura (palavra presente em todos os títulos de episódio da T1). Ao mesmo tempo que parece gozar consigo mesmo, atira ideias bem conseguidas que nos levam a reanalisar temas que tomámos como certos, adicionando novas perspetivas.

 

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Tal como em «#BlackAF», Barris tem seis filhos. Mas se na série Rashida Jones interpreta uma ficcional Joya Barris, a mulher de Kenya chama-se na realidade Rainbow (tal como a protagonista feminina de «Black-ish», Tracee Ellis Ross) e o casamento vive momentos bem menos felizes. Em 2019, Barris pediu o divórcio – algo que não é inédito na história do casal – e ainda não se sabe se já foi concretizado (em 2014 acabariam por se reconciliar). Contas feitas, é certo que o casal ficcional da trama também atravessa os seus problemas, mas frequentemente em prol da vertente humorística da série, muitas vezes sustentada num discurso histórico e fortemente apoiado na desigualdade entre brancos e afro-americanos. A espaços, a dupla só quer saber qual é o melhor progenitor.

 

O contrato multimilionário com a Netflix integra a própria storyline, que também marca encontro com outros rostos bem conhecidos como Steven Levitan (criador de «Modern Family»), Tyler Perry (figura incontornável da comédia), Issa Rae («Insecure») e Ava DuVernay, entre muitos outros. Uma série na linha dos outros projetos de Barris que, ainda assim, procura ir mas além através da sua (falsa) realidade.

 

Não obstante, esta é uma série que equilibra bem o argumento mais composto com o humor. E que, ao mesmo tempo que caricaturiza Barris sob o olhar da criação do próprio, tem a capacidade de construir e consolidar uma família plural e onde cada personagem tem a sua individualidade e presença na narrativa. Para justificar a abordagem documental da gravação, um pouco como acontecia em «The Office», a série atribui a responsabilidade a Drea (Iman Benson), a filha que ambiciona entrar na Escola de Cinema da Universidade de Nova Iorque e grava o documentário para o efeito. Mas, como uma das irmãs antecipa, o mais certo é o pai lhe roubar a ideia…

 

 

Originalmente publicada na Metropolis

18 de Abril, 2020

As Novas Séries Mais Aguardadas em 2020: Snowpiercer

Sara

No ano em que, de forma surpreendente, Bong Joon-ho foi o grande vencedor dos Óscares por «Parasitas» (2019), chega uma série que deriva de um dos seus filmes mais populares: «Snowpiercer» (2013). Atendendo aos problemas reportados em relação a discordâncias criativas que atrasaram o desenvolvimento, parece ironia do destino a série ver a luz do dia quando Joon-ho conseguiu o maior sucesso da carreira. É que, na sequência do seu êxito, não devem tardar muitas outras adaptações, com a HBO a ser a primeira a chegar-se à frente para uma adaptação de «Parasitas» (2019) a minissérie. Com outro elenco, a aposta deverá ser uma versão estendida do filme original, contendo trechos que o realizador e autor optou por tirar do filme por limitação de tempo.

 

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Na verdade, a origem de «Snowpiercer» está na prolífica década de 80, mais concretamente na obra gráfica francesa “Le Transperceneige”, de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette. O reboot protagonizado por Jennifer Connelly e Daveed Diggs (que atingiu o estrelado graças à peça musical “Hamilton”) centra-se no comboio que preserva os últimos habitantes da Terra, depois de o planeta se tornar um espaço gelado e mortífero. Nas carruagens que de forma contínua circulam o globo, a população não está, apesar disso, livre das amarras e pressupostos sociais. O habitat funciona como uma espécie de corporação, onde um número reduzido de pessoas controla a maioria.

 

Com a estreia apontada para 17 maio no TNT (a confirmar a data de estreia na Netflix), a série tem despertado alguma curiosidade, quer pela escolha do elenco, quer pelo facto de não ser uma adaptação literal da narrativa – pelo que é aberta a surpresas. A Netflix já garantiu a distribuição internacional da série, adaptada ao pequeno ecrã por um nome que marca a história recente da ficção científica em TV: Graeme Manson, um dos responsáveis por detrás de «Orphan Black», a trama protagonizada pela impressionante Tatiana Maslany.

 

 

Especial a decorrer na Metropolis

 

17 de Abril, 2020

As Novas Séries Mais Aguardadas em 2020: Penny Dreadful - City of Angels

Sara

Outra das modas a que temos assistido cada vez mais em TV é o "milagre" da multiplicação: a realização de prequelas e sequelas de séries bem-sucedidas. Com maior ou menor êxito, as tramas têm encontrado “vida depois da morte” e, nalguns casos, os spin-offs até coexistem com o original. «Penny Dreadful: City of Angels» é, possivelmente, uma das séries mais aguardadas nesta categoria em 2020, a par de «The Walking Dead: World Beyond». Até porque apresenta uma fan favourite na linha da frente: Natalie Dormer («A Guerra dos Tronos», «Elementary»).

 

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Com estreia apontada para abril no Showtime, a narrativa avança 40 anos no tempo em relação a «Penny Dreadful», situando-se na “Golden Age” de Hollywood, em plena década de 30. Novamente com John Logan a assumir as lides de criador, a série tem um desafio difícil pela frente: fazer diferente, mas com o mesmo (ou mais) sucesso. Além da mudança de personagens, a organização do argumento é também distinta. É certo que os fãs da série sempre se distinguiram por serem bastante fiéis, mas será que a nova aventura terá a capacidade de garantir o seu regresso e manutenção?

 

Los Angeles, 1938. O ambiente está intimamente ligado ao folclore mexicano-americano e a uma intensa tensão social. Uns aliam-se à Santa Muerte, outros ao Diabo. Tiago Vega, interpretado por Daniel Zovatto («Here and Now», «Fear the Walking Dead»), é o detective incumbido pela investigação de um homicídio brutal, que assume contornos inesperados. Ele e a sua família são testados e envolvidos de forma irremediável no lado menos claro de LA. Uma narrativa inusitada que acompanha a história da própria cidade: as primeiras autoestradas, o folclore, a espionagem do Terceiro Reich e o crescimento do evangelismo via rádio. Será que estes ingredientes vão combinar numa série de luxo ou num desastre completo?

 

 

Especial a decorrer na Metropolis

 

12 de Abril, 2020

Insecure: A Vida Adulta Para Totós

Sara

Como não há duas sem três, há mais uma série a entrar no catálogo da HBO Portugal esta segunda-feira, 13. Depois de um hiato de quase dois anos, Issa Rae está de regresso com mais 10 episódios de «Insecure». Já vi os primeiros cinco episódios da quarta temporada e escrevi sobre isso para a revista Metropolis.

 

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Há uma cena na quarta temporada de «Insecure» que parece ser o resumo – próximo da perfeição – do que é a storyline da série e, ironicamente, dos dias de quarentena que agora vivemos. Issa (Issa Rae) e Molly (Yvonne Orji) encontram-se para fazer exercício em casa e, no meio desta tentativa de proatividade, a primeira queima o tapete de ioga. Se há metáfora que descreve a história de «Insecure» é esta: mesmo quando a intenção é boa, it all goes to shitJá em relação ao exercício caseiro, foi quase premonitório, certo?

 

Ao longo da primeira metade da T4, é feita a contagem decrescente para a tão aguardada block party de Issa. E, se o pontapé de partida é auspicioso, uma coisa é praticamente certa: algo vai estragar tudo. A amizade de Issa e Molly tem apresentado fragilidades, nomeadamente pelos ressentimentos de parte a parte, pelo que há uma sensação constante de que tudo pode descambar. Enquanto Molly continua a encontrar problemas de forma persistente, mesmo na nova relação, Issa arrisca-se demasiado quando julga a melhor amiga e se mantém, também ela, nos mesmos erros. Fosse esta uma série portuguesa e já alguém tinha dito a tão popular frase "diz o roto ao nu".

 

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Seria uma desconsideração para com o incrível trabalho dos criadores Issa Rae e Larry Wilmore (Grown-ish, The Bernie Mac Show) dizer que não houve uma evolução das personagens. É inegável que houve um trabalho de emancipação na vertente profissional, até pelas exigências naturais da vida adulta, mas a componente relacional tem um longo caminho pela frente. E o caminho tem sido construído para mostrar que essa jornada dificilmente tem fim. A audiência já sabe que Condola (Christina Elmore), o novo braço-direito de Issa, está a encontrar-se com Lawrence (Jay Ellis), o ex-namorado da protagonista, e o universo da narrativa também não tarda a perceber isso. Que relações terão a capacidade de sobreviver a tamanho caos?

 

O humor da narrativa é um dos seus pontos fortes. Até os momentos mais rotineiros resultam frequentemente em piadas improváveis, que vão aliviando a tensão que se espera de uma temporada com o tema Lowkey  (subtil, retraído). A comédia física também se mantém como aposta, bem como a linguagem explícita e visual que é já caraterística da série, num estilo bastante ousado. Por outro lado, a série tem ainda a capacidade de "caricaturizar" a própria realidade, nomeadamente com a menção à popularidade das séries que exploram crimes reais (num estereótipo hilariante) ou ao facto de se recorrer ao Youtube sempre que não se sabe fazer algo.

 

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Estamos perante uma série de mulheres fortes, que se colocam narrativamente no lugar habitualmente atribuído aos homens. «Insecure» terá mais tendência para "falar" com a audiência feminina, mas tem a capacidade de explorar temáticas comuns a ambos os sexos. Já a insegurança que dá nome à série original da HBO, continua lá, apenas se vai reinventando e encontrando novas formas de se expressar. E de revelar esta inabilidade social de vingar na vida adulta, ao mesmo tempo que a realidade parece teimar em colocar novos obstáculos. Um trabalho notável de Issa Rae.

 

 

12 de Abril, 2020

Run: A Metáfora dos Nossos Dias, Segundo Phoebe Waller-Bridge & Cia.

Sara

Só o elenco parece já ser o suficiente para agarrar a audiência ao ecrã a partir da próxima segunda-feira, 13. «Run», a mais recente aposta da HBO, é protagonizada por Merritt Wever e Domhnall Gleeson, e faz-se valer de três palavras mágicas que parecem ter a capacidade, por estes dias, de colar toda a gente ao ecrã para devorar uma série: Phoebe Waller-Bridge. Vi os primeiros cinco episódios da série, pela Metropolis, e mal posso esperar pelos três que faltam.

 

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Imaginemos a seguinte situação. Alguém, depois de devorar a trilogia de Richard Linklater (Antes do Amanhecer, Antes do Anoitecer e Antes da Meia-Noite), começava a dizer um leque de coisas surreais que podiam ter acontecido aos protagonistas ao longo das suas viagens. Sem limites no que diz respeito a probabilidades ou bizarrias. Junta-se a isto o humor já reconhecível das séries produzidas pela Phoebe e traçam-se os primeiros contornos de «Run», uma série que ilustra a viagem impulsiva de Ruby (Merritt Wever, Nurse Jackie e Unbelievable) e Billy (Domhnall Gleeson, Harry Potter e Star Wars).

 

A multifacetada Phoebe Waller-Bridge junta-se a Vicky Jones, envolvida no argumento das suas «Crashing» e «Fleabag», para criar uma premissa inusitada mas bastante promissora. Ruby e Billy, ex-namorados no início da idade adulta, fazem um acordo: se algum dia ambos enviarem a mensagem Run, encontram-se numa estação e desaparecem durante uma semana, no fim da qual têm de decidir se querem ficar juntos ou não. Depois de várias tentativas sem retorno, de parte a parte, Ruby responde à mensagem de Billy e os dois rumam à viagem das suas vidas. Pelo caminho, encontram personagens muito bem conseguidas, com principal destaque para as de Phoebe e Archie Panjabi (The Good Wife, Blindspot).

 

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«Run» é tudo aquilo que esperávamos. Há dúvidas, arrependimentos, mágoas entre personagens. Não há grandes artifícios visuais, mas a componente dramática é muito forte e tudo parece resultar em tragédia. Certamente que um encontro tão tardio, com vidas estabelecidas e relacionamentos longos com outras pessoas, não seria o despoletar de um romance épico e eterno. A efemeridade desta fuga da realidade é uma constante, pelo que a qualquer momento a viagem pode acabar em definitivo. O risco permanente aumenta a adrenalina  das personagens e, de certa forma, deixa a audiência alerta para cada sobressalto. E nem os momentos aparentemente mais óbvios acontecem como prevíamos.

 

O argumento ganha muito com Merritt e Domhnall, outrora promessas da representação agora em busca da confirmação. A atriz tem vingado na TV, enquanto o ex-Potteriano tem feito escala no cinema. Com ar trapalhão, linguagem explícita e desprendimento narrativo (a história não vive apegada a si própria), os protagonistas têm muita margem para evoluir e crescer, apesar das limitações de espaço e tempo. Aquilo que Vicky Jones alcança é verdadeiramente incrível na sua simplicidade que, a cada episódio de 20 e poucos minutos, nos deixa ansiosos por saber o que acontece a seguir. Infelizmente, «Run» não sairá de uma vez, mas sim semanalmente à segunda-feira. Absolutamente a não perder.

 

 

11 de Abril, 2020

Killing Eve: A Metamorfose (Possível) de Villanelle

Sara

Um dos dramas mais populares da atualidade está de regresso à HBO Portugal já esta segunda-feira, 13. Eu já assisti ao primeiro episódio e escrevi sobre isso para a revista Metropolis.

 

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Uma das atrizes britânicas mais promissoras da sua geração, Jodie Comer está de volta, em todo o seu esplendor, na terceira temporada de «Killing Eve». Em 2019, Jodie levou para casa um Emmy e um BAFTA pela sua incrível interpretação da assassina em série Villanelle, pelo que a fasquia está bem lá em cima no momento em que nos preparamos para mais uma incursão na loucura da personagem criada por Luke Jennings. Curiosamente, Villanelle habita simultaneamente a TV e a literatura desde 2018 (com fios temporais idênticos), algo não muito frequente.

 

Depois de Eve Polastri (Sandra Oh) esfaquear Villanelle no final da primeira temporada, a vilã devolveu o "carinho" no desenlace da segunda com um tiro. Em ambos os finais, as personagens parecem estar indefinidamente no limbo, com igual probabilidade de se matarem ou de se envolverem romanticamente. A obsessão entre as duas é, aliás, o principal motor condutor da trama desde o primeiro instante, sendo que o comportamento da personagem de Jodie Comer é frequentemente infantil e bipolar, logo muito imprevisível. Já Eve, uma agente da qual se esperaria outro tipo de comportamento, não deixa de se sentir atraída pela antagonista, chegando inclusivamente a colaborar com esta na T2. O casal parecia ter tudo para dar certo, não fosse Eve ter percebido que Villanelle a forçou a assassinar alguém.

 

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É um ciclo vicioso, pelo que há uma sensação de déjà vu perante o novo arranque de temporada. Apesar de nos termos despedido de uma Eve inanimada no chão, a verdade é que não há qualquer tipo de mistério em torno da sua sobrevivência. Sabemos que ela está viva, porque a história dificilmente existe sem ela. No trailer, a série avisa logo ao que vem: Eve tenta recompor-se numa rotina banal e Villanelle acredita que a amada morreu e faz o luto da sua maneira muito peculiar. O primeiro episódio concretiza esta ideia, colocando todas as personagens no ponto de partida. Enquanto Carolyn (Fiona Shaw) revela uma forte instabilidade na vida pessoal e profissional, Kenny (Sean Delaney) tenta solucionar o grande mistério dos Doze por conta própria.

 

Nunca é demais repeti-lo: a interpretação de Jodie Comer é avassaladora. A banda sonora aumenta a tensão, mas é no olhar e na constante inquietação que a personagem sente que vamos balizando os acontecimentos. É percetível o que ela vai fazer ainda antes de o ter feito, num jeito quase amador, mas com um impacto forte na realidade da personagem e de «Killing Eve». E, assim como um "efeito borboleta", mais cedo ou mais tarde Eve irá sentir o "eco" deste turbilhão de emoções e falta de controlo. É, de certa forma, um lugar-comum, mas que enquanto não atingir o seu fim pleno se vai repetir indefinidamente.

 

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Basicamente, está tudo na mesma e não está. Vai ser difícil esperar uma semana por cada novo episódio, a julgar pela brutal arrancada do primeiro. O final de Slowly Slowly Catchy Monkey roça a surpresa e muda por completo o pressuposto que os restantes 40 minutos tinham criado. «Killing Eve» está sempre na mesma rota, mas os desvios mantêm o interesse e obrigam o espectador a estar atento e adaptar-se. Como o jogo que Villanelle joga com Eve Polastri, já sabemos que tudo acaba mal quando começa bem. E se no processo continuarmos a ser presenteados com uma Jodie Comer ao seu melhor nívela par de Fiona Shaw, a eterna tia Petúnia de Harry Potter  –, «Killing Eve» terá tudo para se estabelecer como um dos maiores dramas no feminino dos nossos dias.

 

 

10 de Abril, 2020

As Novas Séries Mais Aguardadas em 2020: Mrs. America

Sara

Qualquer série que junte um elenco feminino deste calibre é de visualização obrigatória. Se tal representar ainda o regresso de Cate Blanchett às lides da TV (este ano também participa em «Stateless»), depois uma passagem quase regular em séries nos anos 90, os motivos parecem começar a amontoar-se para procurar o sofá mal «Mrs. America» esteja disponível, em abril. Um original da FX/Hulu, a trama já tem lugar garantido no catálogo da HBO Portugal, pelo que não teremos de esperar muito até assistir a esta história de inspiração real, associada à Emenda de Direitos Iguais.

 

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Estreia dia 16 de abril

 

A conservadora Phyllis Schlafly (Blanchett) é a principal vilã da narrativa, ligada à facção de mulheres que, perante a luta pela igualdade de direitos entre sexos, se manifestaram contra e defenderam o direito de serem mães e esposas… Depois de aprovada pelo Congresso, a Emenda tinha de ser ratificada pelos Estados e os lados desenvolveram fortes campanhas – a favor e contra. O combate durou anos e Phyllis, autodenominada de “dona de casa ativista”, foi uma das principais responsáveis pelo falhanço da lei, depois de uma década de 70 de discussão acalorada.

 

Do outro lado, e a favor da Emenda, estava um grupo forte e com um objetivo determinado: permitir às mulheres serem independentes, donas da sua própria vida e poderem trabalhar. Na série, são novamente chamadas à ação Gloria Steinem (Rose Byrne), Betty Friedan (Tracey Ullman), Shirley Chisholm (Uzo Aduba, recém-saída de «Orange is The New Black»), Bella Abzug (Margo Martindale) e Jill Ruckelshaus (Elizabeth Banks). O elenco parece promissor? Juntem-lhe ainda Sarah Paulson, Melanie Lynskey, Niecy Nash, Jeanne Tripplehorn, James Marsden e John Slattery. Simplesmente inescapável.

 

 

Especial a decorrer na Metropolis.

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