The Righteous Gemstones: Uma Série Absolutamente "Diabólica"
Uma das comédias mais esperadas da HBO, «The Righteous Gemstones» chega finalmente ao catálogo na madrugada de segunda-feira. Depois de «Eastbound & Down» e «Vice Principals», Danny McBride volta a aventurar-se como criador de uma série de TV, novamente com o selo da HBO, desta feita com «The Righteous Gemstones».
A série retrata uma família peculiar, que tem feito carreira como televangelista: além de o patriarca ser um proeminente pastor evangelista, os Gemstones têm bastante destaque na televisão como figuras de revelo da sua religião. Juntar esta premissa ao histórico cómico de McBride tem tudo para ser uma receita de sucesso, que se torna ainda mais promissora ao contar no elenco, além do criador, com John Goodman («Roseanne»), Edi Patterson («Vice Principals») e Adam DeVine («Workaholics» e «Uma Família Muito Moderna»).
A linguagem e a construção do argumento são corrosivas e, apoiadas nos estereótipos e no preconceito social de algumas religiões, desmistificam a falsa noção de superioridade em que os Gemstones vivem. E à qual a sua comunidade religiosa cegamente se associa. Ao invés de contrariar essa estereotipazação, McBride alimenta-a. Tudo é apoiado por ideias preconcebidas e, ironicamente, tudo tem o potencial de correr mal. Da fama desmesurada à fraqueza da carne humana, sempre assente em preconceitos de género e poder, os Gemstones são uma comédia em si próprios. Também a realidade em que estão inseridos, onde a riqueza da família deriva diretamente da religião evangélica que professam, resulta numa crítica mordaz a essa mesma realidade fora da ficção.
Eli Gemstone (Goodman), o patriarca da família – que construiu o império com a mulher, entretanto falecida –, mantém laços bastante próximos com os três filhos, ainda que Judy (Patterson) assuma um papel muito secundário por ser mulher. Esta relação excessivamente próxima e manipulada, cujo impacto também é visível na comunidade religiosa, é o principal motor da crítica que McBride quer construir. Apesar de ninguém se enquadrar totalmente na visão de Eli, os filhos anulam-se para garantir o acesso à riqueza estabelecida dos Gemstones. E há mesmo uma competição entre pastores de outras localidades, com as tentativas de “franchise” a gerarem desconforto noutras congregações, devido ao mediatismo da família e à consequente disputa pelo dinheiro da comunidade…
As famílias televangelistas são comuns nos Estados Unidos, e também noutros países como o Brasil, pelo que o universo construído por Danny McBride é tudo menos inocente. Na sua base está a condição humana, independente da profissão e da religião dos intervenientes, que contrasta com a visão que a população tem dos Gemstones. Não há “santos” nem boas intenções em jogo, pelo contrário, e é essa caricaturização que sustenta a comédia de «The Righteous Gemstones», uma história bem construída, mas que certamente não escapará à polémica…