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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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30 de Julho, 2018

Sense8: Juntos Até ao Fim

Sara

Para desgosto dos fãs de «Sense8», a Netflix derrubou dois dos seus 'mitos' com a série criada por J. Michael Straczynski e as irmãs Wachowski: o serviço de streaming também cancela séries e, apesar de já ter repescado várias canceladas (veja-se o caso recente de «Lucifer»), a audiência não verá as suas preces sempre atendidas. Ainda a poeira da segunda temporada mal tinha assentado, em 2017, e já a Netflix anunciava o fim prematuro de «Sense8», supostamente uma das suas apostas mais bem-sucedidas.

 

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A decisão apanhou muitos de surpresa, afinal a série tinha duplicado o orçamento da primeira para a segunda temporada – de 54 para 110 milhões de dólares – e a 'obsessão' dos espectadores nas redes sociais fazia augurar bons resultados. No entanto, quando isso não aconteceu, a Netflix bateu com a porta e deixou o aviso: os fãs não iam conseguir salvar esta série, já que as mais-valias não justificavam tamanho investimento. Apesar disso, o descontentamento acabou por levar o serviço a voltar parcialmente atrás, anunciando um último regresso para a despedida. Não é "seis temporadas e um filme", mas é alguma coisa.

 

Desde 2015 que «Sense8», apesar da sua premissa arriscada e complexa, parecia destinada ao sucesso. Tratava-se da estreia das mentes por detrás da trilogia «Matrix», Lana e Lilly Wachowski, no pequeno ecrã; e a abordagem despretensiosa de temas polémicos, aliada a uma narrativa irresistivelmente humana, conseguia cativar multidões por todo o mundo. Foi um grande voo seguido de uma queda com estrondo, que reforçou a ideia de que as séries mais caras da Netflix, como era igualmente o caso de «The Get Down», também são as mais frágeis. Trocado por miúdos, «Sense8» precisava de um sucesso ao nível de «A Guerra dos Tronos» para continuar a justificar a aposta estrondosa dos estúdios. Pois...

 

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Um filme que é uma 'fan-fiction' para os fãs

 

"Amor Vincit Omnia", o episódio de duas horas que escreve o final de «Sense8», é claramente uma carta de amor aos fãs. Embora a ação ocupe uma parte fundamental do argumento, já que seria inevitável concluir o arco de Whispers (Terrence Mann), a narrativa encaminha-se para uma 'lua cheia'. Bem ao seu jeito, «Sense8» despede-se com a mesma ousadia e desafio aos preconceitos que caracterizou a série desde o primeiro episódio. Os oito 'sensates' lutam contra o Mal, mas nas horas livres só querem ser felizes, certo?

 

Sun Bak (Doona Bae), Nomi Marks (Jamie Clayton), Kala Dandekar (Tina Desai), Riley Blue (Tuppence Middleton), Capheus (Toby Onwumere, que na segunda temporada substituiu Aml Ameen), Wolfgang Bogdanow (Max Riemelt), Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre) e Will Gorski (Brian J. Smith). São estas as oito personagens que compõem o 'cluster' de Angelica (Daryl Hannah) e protagonizaram uma história que, na sua realidade, é composta por milhares de indivíduos com os mesmos poderes – ainda que muitas vezes não se revelem. À boleia do seu regresso vêm também outros intervenientes, como Jonas (Naveen Andrews) ou Bug (Michael X. Sommers), e também uma peculiarmente irresistível Lila (Valeria Bilello).

 

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Paris, em França, é a protagonista em pano de fundo desta história, que atravessou vários pontos do globo desde 2015. «Sense8» chegou, inclusivamente, a marcar presença na Parada LGBT de São Paulo, no Brasil, em 2016 – um dos países mais audíveis na sua dedicação à série. Mas, no final de contas, em que outra cidade poderia acabar a história dos oito magníficos, senão na cidade do amor? A series finale de «Sense8» é, na sua essência, uma explosão das diversas emoções que compuseram a trama das Wachowski e J. Michael Straczynski, sem ficar a dever nada a si própria ou à componente de ação e mistério que foi 'complicando' a narrativa.

 

Não obstante, isto não quer dizer que o filme seja de menor qualidade. Até porque não estava comprometido com nada mais do que uma despedida digna, ao contrário do que aconteceria com o final em aberto da segunda temporada. Esta ideia vai ao encontro da certeza, confirmada por comentários dos envolvidos, de que "Amor Vincit Omnia" é para os fãs – foram eles que garantiram o renascimento das cinzas quando as portas foram todas fechadas. Fica também, com os diversos intervenientes na génese de «Sense8», o conforto e a realização de terem conseguido fazer uma série totalmente fora da caixa. E com a Netflix a lição de que não é só o dinheiro que move o sucesso das séries, pelo que a colocação da fasquia lá em cima, a roçar o impossível, pode ter consequências catastróficas. «Sense8» nunca conseguiria recuperar do investimento astronómico da segunda temporada, que abriu um fosso entre orçamento e audiência/lucro.

 

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Quanto ao desfecho propriamente dito, com as purpurinas e fogo de artifício a que tem direito, há uma sensação de copo meio cheio. Ainda que, como já foi defendido, não falhe relativamente àquilo que se propõe, a euforia ou desilusão com o resultado final vai depender de como a audiência lida com a vertente 'fan-fiction'. Isto é, com a clara intenção de os criadores agradarem os fãs, ao invés das personagens ou das ideias preconcebidas, para oferecer uma despedida 'good feeling' e com a sexualidade levada ao extremo, potenciando toda a natureza que tornou a série aquilo que ela é.

 

Pessoalmente, prefiro que a história esteja apenas comprometida consigo própria, com a ideia original e não influenciável dos seus criadores, e não com elementos externos, independentemente de ser capaz de agradar às massas. Veja-se, a título de exemplo, o caso de «Era Uma Vez» e «Arrow» que, embora nunca tenham assumido a manipulação da narrativa para dar resposta aos desejos dos fãs, entraram num ciclo do qual não conseguiram sair. Formaram-se casais, saíram personagens e forçaram-se storylines para corresponder ao que as audiências apregoavam nas redes sociais – não necessariamente a maioria, mas sim os mais 'barulhentos' –, privilegiando o marketing em detrimento da narrativa. Será que se pode falar em 'vitória' quando se perde tanto? Fica a questão.

 

 

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

 

 

26 de Julho, 2018

Eu Sobrevivi à Sexta Temporada de «Orange is the New Black»!

Sara

Depois do motim das presidiárias, a narrativa ficou em aberto e as possibilidades eram imensas. «Orange is the New Black» segue um caminho ousado, e com escolhas que dificilmente vão agradar a todos, mas sai a ganhar após 13 episódios. A METROPOLIS teve acesso antecipado à nova temporada, que estreia sexta-feira, 27, na Netflix.

 

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Pela primeira vez desde a estreia, em 2013, «Orange is the New Black» não somou qualquer indicação aos Emmys de setembro. A 'culpada' foi a sua quinta temporada, lançada no verão de 2017 e só agora elegível para nomeação, que marcou uma rutura clara e incontornável com as anteriores storylines da criadora Jenji Kohan e companhia. Depois de conflitos entre presidiárias – ou destas com pessoas pré-Litchfield –, foi a vez de as mulheres se revoltarem contra os guardas e a corporação responsável pela gestão da Prisão de Litchfield (a MCC), devido às más condições, violência e discriminação. Qualquer semelhança com a realidade das prisões norte-americanas não será pura coincidência.

 

É certo que, mais do que qualquer uma das anteriores, a última temporada dividiu opiniões. A mudança de paradigma foi muito acentuada e ousada, levando a um corte quase total com aquela que tinha sido a 'linguagem' usada até então, e os resultados foram catastróficos – que o diga Desi Piscatella (Brad William Henke). No entanto, o regresso está longe, também, de querer agradar às massas, pelo que não tem problemas em afastar personagens ou prejudicar as individualidades em prol da história maior que quer contar. Ainda que algumas pessoas possam entender isto como uma falta de foco, ou um 'castigo' sem critério definido, «Orange is the New Black» tem uma narrativa intencional e cuidada, o que se torna cada vez mais claro ao longo dos 13 episódios, disponíveis na Netflix a partir de sexta, feira, 27.

 

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Sempre foi notório que, à exceção de Piper Chapman (Taylor Schilling), inspirada na ex-presidiária e humanitária Piper Kerman, ninguém está a salvo. Veja-se a morte de Poussey (Samira Wiley, agora em «The Handmaid's Tale») ou o afastamento, nos próximos episódios, de personagens tidas como determinantes e até fan favourites, como 'Big' Boo (Lea DeLaria) e Maritza (Diane Guerrero). Outrora nos 'bastidores' da ação, a Max de Litchfield reclama agora todas as atenções para si, pelo que o núcleo duro da menina dos olhos da Netflix vão ser as presidiárias deslocadas para lá e aquelas que já estão na prisão de segurança máxima, nomeadamente as 'líderes' da Prisão de Máxima Segurança, as irmãs Carol (Henny Russell) e Barbara (Mackenzie Phillips), e as suas pupilas Badison (Amanda Fuller) e Daddy (Vicci Martinez). Quem foi transferida para outra prisão acaba por perder importância e, consequentemente, passa ao lado da sexta temporada.

 

"Ai, as saudades que eu tinha da Piper!". Embora a nova temporada da bem-sucedida aposta da Netflix seja propícia a frases emotivas, dificilmente encontraremos este desabafo de felicidade entre elas. Piper seria facilmente colocada numa lista de 'protagonistas não adorados' ou 'personagens que provocam mais revirar de olhos por episódio', e regressa igual a si mesma. A evolução da personagem principal ao longo dos anos tem sido notória, mas isso não tem tido correspondência em menos egoísmo e egocentrismo, ainda que ela tente contribuir para uma realidade mais positiva na prisão. Ao jeito do que acontece com Piper Kerman, que sempre manifestou a sua vontade de colocar a audiência a falar não apenas sobre a ficção, mas também sobre o drama real que se desenrola fora da televisão e do computador, nos centros de detenção norte-americanos.

 

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Sem revelarmos demasiado sobre o que aí vem, fica desde já o aviso que as surpresas continuam a acontecer a um bom ritmo, mesmo com velhos conhecidos. Estamos perante, aliás, alguns dos twists mais chocantes de «Orange is the New Black». Por seu lado, há três personagens que se vão revelar determinantes e nas quais assentam as principais storylines: Piper, Frieda (Dale Soules), que tem um desentendimento antigo na Max, e Joe Caputo (Nick Sandow). Apesar de a narrativa não se concentrar demasiado em nenhum deles, seguindo mais uma vez o foco global da vida na prisão (ou sobrevivência), é indispensável o foco particular para fazer avançar «Orange is the New Black». E, sobretudo, aquilo que as consequências das diferentes histórias poderão significar na sétima, e última (?), temporada.

 

A avaliação global dos novos episódios é bastante positiva, embora as fragilidades da série sejam inegáveis, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento de pequenos 'dramas', que nem sempre têm resposta à altura na ação. Não obstante, 'perdoa-se' esta falha pelas limitações óbvias de tempo e, ao mesmo tempo, porque são enfraquecidas em prol de uma maior força da história inspirada por Piper Kerman como um todo. Os produtores executivos olham Donald Trump e as suas políticas bem de frente, sem precisarem sequer de o mencionar ou de situar rigorosamente os acontecimentos, na linha do que têm feito apostas como «The Handmaid's Tale», «The Good Fight» ou «Arrested Development».

 

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«Orange is the New Black» está a marcar a atualidade seriólica e irá, com toda a certeza, ficar na história das produções da Netflix – não apenas pelo seu sucesso, mas também pela sua relevância para a discussão social. Numa altura em que ainda se critica a desvalorização das personagens femininas em séries e filmes, a série da Netflix rompe com a 'norma' e coloca as mulheres no topo desta cadeia alimentar, dando-lhes relevância, profundidade e problemas complexos (além da multiplicidade de etnias presentes). Isso não quer dizer que ignore as suas personagens masculinas, pelo contrário, sendo uma lição valiosa de como é possível ter conteúdos mais equilibrados em termos de género, sem prejudicar outros grupos.

 

 

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

 

22 de Julho, 2018

La Casa de Papel: o 'hype' tem razão de ser?

Sara

Tornou-se impossível escapar à euforia em torno de «La Casa de Papel». A aposta espanhola chegou com estrondo à Netflix e, de um momento para o outro, muitos recomendavam a série e quem não assistia sentia-se um autêntico extraterrestre. Mas será que o 'hype' é merecido? Eu fui assistir à série (finalmente!) e escrevo sobre isso.

 

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Tudo começou sem que ninguém se apercebesse: pormenores quase impercetíveis aqui e a ali, mudanças de discurso e de comportamento, e até sinais que agora parecem óbvios, mas que, à data, só foram detetados quando já não havia nada a fazer. É certo que esta descrição faz lembrar a narração de Offred (Elisabeth Moss) em «The Handmaid's Tale», mas também encaixa como uma luva no fenómeno estrondoso de «La Casa de Papel». Embora reconheça que se trata de uma descrição algo dramática do 'buzz' em torno da série, a verdade é que a rapidez e 'matreirice' com que se estabeleceu, mal foi lançada mundialmente pela Netflix, podiam muito bem fazer parte da trama de um filme.

 

Quando o rastilho foi ateado, tornou-se impossível de travar. Primeiro, foram os meus amigos a invadir as redes sociais: estavam 'viciados' numa qualquer série espanhola e queriam saber se havia mais gente como eles. Havia, sim, e o número aumentava assustadoramente dia após dia. Depois, foram os meus colegas de trabalho, mais velhos do que eu, e, normalmente, mais recetivos a aceitar sugestões de séries do que a tomar a iniciativa. Por fim, a imprensa não ficou indiferente ao êxito inesperado da criação de Álex Pina e, um pouco por todo o mundo, fez-se correr muita tinta sobre a nova série da Netflix.

 

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"Já viste «La Casa de Papel»?". Perdi a conta ao número de vezes que ouvi esta pergunta e, sendo a resposta invariavelmente a mesma durante meses, já era excluída das conversas de café (ou excluía-me, a fim de evitar 'spoilers'). Assim que a euforia inicial encontrava o final da primeira temporada, muitos desesperavam, cheios de curiosidade, e contavam os dias para o regresso; todavia, a espera não foi longa, já que a Netflix apenas dividiu a temporada original, com um hiato breve, e tornou os episódios mais curtos, 'americanizando' o formato da série. Já eu, que assistia de fora a todo este processo, interessante para quem gosta de tudo o que envolve o pequeno ecrã, ficava cada vez mais curiosa em relação ao motor por detrás disto tudo.

 

O mundial da Espanha começou aqui

 

A premissa de «La Casa de Papel» é aparentemente simples: um homem misterioso, baptizado por si próprio como "Professor", decide reunir um grupo de criminosos – desconhecidos entre si – e levar a cabo o maior assalto da história de Espanha. A narrativa torna-se inusitada quando percebemos que a personagem de Álvaro Morte quer assaltar a Casa da Moeda e fazer o seu próprio dinheiro, para que este não possa ser rastreado. A ideia até pode ser de génio, mas será que os assaltantes com a máscara de Salvador Dalí podem ser bem-sucedidos?

 

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Desengane-se quem pensa que esta é apenas mais uma tradicional série de ação. Embora o ritmo marque presença, a série espanhola sabe explorar a influência de outros géneros, nomeadamente a comédia e o romance, reforçando assim o interesse do público e tornando a aventura mais interessante. A qualidade de imagem e edição também é uma evidência, e a sua 'assinatura' cinematográfica motivou rapidamente comparações com aquilo que é feito nos Estados Unidos. Embora seja vista como um elogio, esta caraterização acaba por 'castigar' a identidade europeia do projeto, que tem mérito próprio e não depende em demasia de nenhum estilo.

 

Tendo em conta a multiplicidade de personagens centrais, Álex Pina opta por pegar numa das suas personagens menos consensuais, interpretada por Úrsula Corberó e mais tarde conhecida por "Tóquio". A escolha é ousada, por um lado, e essencial para a audiência se interessar pelo que vai acontecer, por outro. Isto porque, embora não seja a figura mais adorada da série, Tóquio é capaz de despertar uma reação no espectador, seja esta de amor ou ódio, e, ao mesmo tempo, permite uma introdução faseada ao que vai acontecer. Em termos de argumento, este truque é fundamental para o interesse prematuro do público, que se poderia facilmente perder se «La Casa de Papel» apostasse numa abordagem mais superficial.

 

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O segundo 'íman' narrativo é o "Professor", mais consensual e essencial para concentrar todos os elementos físicos e ficcionais. A representação de Álvaro Morte é cativante e, à medida que o tempo avança, damos por nós a admirar a sua inteligência, ou seja, a forma como o golpe e os seus possíveis imprevistos foram antecipados ao longo de anos. Mais do que um assalto ou um misto de flashbacks – estes últimos contribuem para melhorar o ritmo e tornar a narrativa mais leve –, «La Casa de Papel» é uma combinação ganhadora das principais influências que marcam a televisão da atualidade.

 

(...)

 

Não, esta não é a melhor série de sempre (e não há problema nenhum com isso)

 

Mas, afinal, tem o 'hype' razão de ser? Sim, se for apresentado com moderação. «La Casa de Papel» é uma das surpresas mais agradáveis da história recente da televisão, mas está num nível inferior quando comparada com séries como «The Handmaid’s Tale», «Westworld», e até «Stranger Things». Quer isto dizer que, apesar de o fenómeno ser interessante de analisar, a euforia excessiva pode mesmo penalizar a série, não no que diz respeito ao seu sucesso, mas sim à captação de novos públicos.

 

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Com a recomendação de «La Casa de Papel» vêm, por diversas vezes, os elogios entusiastas. Entre as 'nomeações' dos fãs a melhor série do ano (e até de sempre), a fasquia é colocada exageradamente lá em cima e castiga, ainda que não intencionalmente, a reação de novas audiências à série – caso esta não corresponda às expetativas, que vão sendo construídas com base nas opiniões que ouvimos. As repercussões, essas, já são maniatadas pelo 'hype' que, se no início foi crucial para o sucesso, é agora um ‘'empecilho' difícil de contornar.

 

Depois de assistir a «La Casa de Papel», é fácil perceber como atraiu tanta gente: existem maneirismos e tendências que já provaram ser um sucesso noutras apostas, e que quando combinadas têm um resultado arrasador. É questionável, no entanto, a euforia que foi atingida perante o êxito prematuro da série criada por Álex Pina, no sentido em que atingiu um nível totalmente histórico e que, inevitavelmente, vai ser difícil de manter com uma segunda temporada. Seria esta uma história para apenas uma temporada, ou há ainda caminho a percorrer? Vamos ver…

 

 

Artigo completo na Metropolis número 61.

 

 

13 de Julho, 2018

Emmys 2018: Netflix Lidera Nomeações Pela Primeira Vez

Sara

Tanto ameaçou que aconteceu mesmo! Há muito tempo a 'morder' os calcanhares da HBO, líder indiscutível há 17 anos nas indicações aos Emmys, o serviço de streaming Netflix quebrou o enguiço e, com 112 nomeações (mais quatro do que o canal norte-americano), reforçou mais do que nunca a sua posição. Graças às categorias técnicas, «A Guerra dos Tronos» (22) e «Westworld» (21) são as mais nomeadas, enquanto «The Handmaid's Tale», a grande vencedora de 2017, reforça o seu estatuto com 20. A cerimónia acontece a 17 de setembro, e tem como apresentadores Colin Jost e Michael Che, de «Saturday Night Live».

 

NOMEADOS EM DRAMA

 

MELHOR SÉRIE

(The Handmaid's Tale, 2017)

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A Guerra dos Tronos

Stranger Things

The Americans

The Crown

The Handmaid's Tale

This Is Us

Westworld

 

MELHOR ACTOR

(Sterling K. Brown - This is Us, 2017)

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Ed Harris, Westworld

Jason Bateman, Ozark

Jeffrey Wright, Westworld

Matthew Rhys, The Americans

Milo Ventimiglia, This Is Us

Sterling K. Brown, This Is Us

 

MELHOR ATRIZ

(Elisabeth Moss - The Handmaid's Tale, 2017)

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Claire Foy, The Crown

Elisabeth Moss, The Handmaid's Tale

Evan Rachel Wood, Westworld

Keri Russell, The Americans

Sandra Oh, Killing Eve

Tatiana Maslany, Orphan Black

 

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

(John Lithgow - The Crown, 2017)

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David Harbour, Stranger Things

Joseph Fiennes, The Handmaid's Tale

Mandy Patinkin, Homeland

Matt Smith, The Crown

Nikolaj Coster Waldau, A Guerra dos Tronos

Peter Dinklage, A Guerra dos Tronos

 

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

(Ann Dowd - The Handmaid's Tale, 2017)

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Alexis Bledel, The Handmaid's Tale

Ann Dowd, The Handmaid's Tale

Lena Headey, A Guerra dos Tronos

Millie Bobby Brown, Stranger Things

Thandie Newton, Westworld

Vanessa Kirby, The Crown

Yvonne Strahovski, The Handmaid's Tale

 

ATOR CONVIDADO

(Gerald McRaney - This is Us, 2017)

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Cameron Britton, Mindhunter

F. Murray Abraham, Homeland

Gerald McRaney, This Is Us

Jimmi Simpson, Westworld

Matthew Goode, The Crown

Ron Cephas Jones, This Is Us

 

ATRIZ CONVIDADA

(Alexis Bledel - The Handmaid's Tale, 2017)

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Cherry Jones, The Handmaid's Tale

Cicely Tyson, How to Get Away With Murder

Diana Rigg, A Guerra dos Tronos

Kelly Jenrette, The Handmaid's Tale

Samira Wiley, The Handmaid's Tale

Viola Davis, Scandal

 

 

NOMEADOS EM COMÉDIA

 

MELHOR SÉRIE

(Veep, 2017)

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Atlanta

Barry

Black-ish

Curb Your Enthusiasm

GLOW

Silicon Valley

The Marvelous Mrs. Maisel

Unbreakable Kimmy Schmidt

 

MELHOR ATOR

(Donald Glover - Atlanta, 2017)

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Anthony Anderson, Black-ish

Bill Hader, Barry

Donald Glover, Atlanta

Larry David, Curb Your Enthusiasm

Ted Danson, The Good Place

William H. Macy, Shameless

 

MELHOR ATRIZ

(Julia Louis-Dreyfus - Veep, 2017)

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Allison Janney, Mom

Issa Rae, Insecure

Lily Tomlin, Grace & Frankie

Pamela Adlon, Better Things

Rachel Brosnahan, The Marvelous Mrs. Maisel

Tracee Ellis Ross, Black-ish

 

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

(Alec Baldwin - Saturday Night Live, 2017)

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Alec Baldwin, Saturday Night Live

Brian Tyree Henry, Atlanta

Henry Winkler, Barry

Kenan Thompson, Saturday Night Live

Louie Anderson, Baskets

Tituss Burgess, Unbreakable Kimmy Schmidt

Tony Shalhoub, The Marvelous Mrs. Maisel

 

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

(Kate McKinnon - Saturday Night Live, 2017)

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Aidy Bryant, Saturday Night Live

Alex Borstein, The Marvelous Mrs. Maisel

Betty Gilpin, GLOW

Kate McKinnon, Saturday Night Live

Laurie Metcalf, Roseanne

Leslie Jones, Saturday Night Live

Megan Mullally, Will & Grace

Zazie Beetz, Atlanta

 

ATOR CONVIDADO

(Dave Chappelle - Saturday Night Live, 2017)

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Bill Hader, Saturday Night Live

Bryan Cranston, Curb Your Enthusiasm

Donald Glover, Saturday Night Live

Katt Williams, Atlanta

Lin-Manuel Miranda, Curb Your Enthusiasm

Sterling K. Brown, Brooklyn Nine-Nine

 

ATRIZ CONVIDADA

(Melissa McCarthy - Saturday Night Live, 2017)

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Jane Lynch, The Marvelous Mrs. Maisel

Maya Rudolph, The Good Place

Molly Shannon, Will & Grace

Tiffany Haddish, Saturday Night Live

Tina Fey, Saturday Night Live

Wanda Sykes, Black-ish

 

 

FILME TV E SÉRIE LIMITADA

 

MELHOR FILME (TELEVISÃO)

(Black Mirror "San Junipero", 2017)

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Black Mirror, "USS Callister"

Farenheit 451

Flint

Paterno

The Tale

 

MELHOR SÉRIE LIMITADA

(Big Little Lies, 2017)

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Genius: Picasso

Godless

O Alienista

O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story

Patrick Melrose

 

MELHOR ATOR

(Riz Ahmed - The Night Of, 2017)

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Antonio Banderas, Genius: Picasso

Benedict Cumberbatch, Patrick Melrose

Darren Criss, O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story

Jeff Daniels, The Looming Tower

Jesse Plemons, Black Mirror "USS Callister"

John Legend, Jesus Christ Superstar Live in Concert

 

MELHOR ATRIZ

(Nicole Kidman - Big Little Lies, 2017)

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Edie Falco, Law & Order True Crime: The Menendez Murders

Jessica Biel, A Pecadora

Laura Dern, The Tale

Michelle Dockery, Godless

Regina King, Seven Seconds

Sarah Paulson, American Horror Story: Cult

 

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

(Alexander Skarsgård - Big Little Lies, 2017)

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Brandon Victor Dixon, Jesus Christ Superstar Live in Concert

Edgar Ramirez, O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story

Finn Wittrock, O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story

Jeff Daniels, Godless

John Leguizamo, Waco

Michael Stuhlbarg, The Looming Tower

Ricky Martin, O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story

 

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

(Laura Dern - Big Little Lies, 2017)

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Adina Porter, American Horror Story: Cult

Judith Light, O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story

Letitia Wright, Black Mirror "Black Museum"

Merritt Wever, Godless

Penélope Cruz, The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story

Sara Bareilles, Jesus Christ Superstar Live in Concert

 

11 de Julho, 2018

GLOW: Aqui, Quem Veste as Calças São Elas

Sara

Sem a preocupação, natural, de contextualizar as personagens e a narrativa, «GLOW» pode, por fim, ser aquilo a que se propõe em absoluto: os bastidores de uma série inusitada nos anos 80. A segunda temporada já está disponível na Netflix e é ainda melhor do que a primeira.

 

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Depois de uma primeira temporada de contextualização, o elenco de «GLOW» ["brilho", na sua tradução literal] está de volta para andar finalmente à 'porrada'. Com um treino muito intenso, que tentou colocar as atrizes à altura do desafio, Ruth (Alison Brie) e companhia vão ter agora a prova derradeira: será que são mesmo capazes de fazer da série de wrestling um sucesso de audiências? E será que Debbie (Betty Gilpin) vai levar o novo emprego (demasiado) a sério? As perguntas são muitas, e a série da Netflix não tarda a dar-nos respostas.

 

Por mais incrível que pareça, a série criada por Liz Flahive e Carly Mensch tem mesmo um fundo de verdade. «GLOW: Gorgeous Ladies of Wrestling» tinha tudo para ser um fracasso – mulheres sem particular talento e com um orçamento reduzido a combater na TV? –, mas a verdade é que foi um sucesso e fez furor entre 1986 e 1989, altura em que o canal retirou inexplicavelmente o apoio. Assim como acontece na narrativa, que retrata a sua fonte de inspiração de forma sublime, os confrontos entre lutadoras eram assentes em estereótipos e os conteúdos tinham como imagem de marca o facto de serem politicamente incorrectos. Preconceito para com estrangeiros, figuras nada tradicionais e fora da norma? Com certeza!

 

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Protagonista de «GLOW» e vilã na 'série de ficção dentro da ficção', Ruth é o fio condutor de que depende toda a ação. Por um lado, o espectador é tentado a empatizar com a personagem principal, ainda que as suas escolhas sejam frequentemente questionáveis e seja logo apresentada, no piloto, como alguém que teve um caso com o marido da melhor amiga. A verdade é que, apesar dos traços de vilania, Ruth tenta efetivamente mudar e, a certa altura, já não se sabe quem é mais culpada – se ela, se Debbie. Curiosamente, o seu papel de má da fita assume a forma de uma personagem russa, 'brincando' com o conflito histórico entre a Rússia/União Soviética e os Estados Unidos, nomeadamente no que diz respeito à Guerra Fria.

 

A veia feminista da série é evidente e fala por si, sem necessidade de grandes truques estilísticos: ela faz parte da trama com naturalidade. Por um lado, temos a crítica frequente ao entendimento do lugar dependente da mulher, bem como à dificuldade que esta tem em assumir-se em lugares de destaque na vida profissional, como a realização ou a produção. Por outro lado, embora as mulheres estejam em maior número, são constantemente incapazes de superar a voz masculina, que decide, usa e abusa da falta de poder que a sociedade permite à mulher. Há muito humor, sim, mas «GLOW» também sabe falar muito a sério.

 

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A nova temporada arranca cheia de força, indo direta aos assuntos e trabalhando as pontas soltas que foram deixadas em aberto na estreia. Além do mais, e ao contrário do que acontece no ringue, a série da Netflix não distingue com a mesma clareza heróis e vilões, pelo que o/a espectador/a vai ter muitas surpresas, sobretudo se acha que já sabe tudo sobre as personagens. No fundo, «GLOW» separa muito bem a sua realidade da realidade que faz parte da série de wrestling e, por conseguinte, da homenagem à original dos anos 80. Embora as cartas sejam colocadas todas na mesa, há sempre um trunfo pronto a ser lançado e a mudar o rumo do jogo.

 

 

Texto completo na edição de julho da Metropolis, que sai em breve.