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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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22 de Abril, 2018

Westworld: De 'Newcomer' a 'Guest' Regular do Nolan World

Sara

Estive presente na antestreia da série mais esperada de 2018 e já há uma certeza: tudo o que aí vem só pode ser muito bom. A segunda temporada de «Westworld» tem estreia na madrugada de 22 para 23 de abril, às 2 horas, no TVSéries. Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

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A discussão acerca da predominância do livre-arbítrio ou da programação nos androides de «Westworld», e por conseguinte se estão a agir consoante as suas escolhas ou aquilo que Robert Ford (Anthony Hopkins) determinou, já escalou completamente e resultou numa crise existencial. Agora sou eu, enquanto espectadora, a questionar se realmente escolhi seguir religiosamente o Nolan World, ou se também sou alvo da mente de Jonathan Nolan e não encontro o centro do Labirinto para lhe escapar.

 

A minha relação com os irmãos Nolan já teria potencial para um livro, ou então para um acompanhamento clínico. Perdoem o meu desabafo mais pessoal, mas Christopher e Jonathan Nolan são extremamente bem-sucedidos a trocar-me as voltas, uma e outra vez, desde os tempos da faculdade. Não fosse um filme chamado «Memento» (2000) e, provavelmente, nem tinha estudado Cinema. Como se não bastasse a influência no grande ecrã e, depois de escapar mais ou menos intacta a «Sob Suspeita», lá vem Jonathan Nolan, na companhia da esposa Lisa Joy, para me deixar novamente sem saber às quantas ando. Mas vamos lá falar da espectacularidade que é «Westworld».

 

"Journey Into Night" – o quarteto do maestro Robert Ford

 

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Os accionistas e convidados de luxo da Delos, a corporação por detrás de Westworld, estavam à espera de assistir a uma narrativa surpreendente, no âmbito da despedida do Dr. Robert Ford. Em certa parte tiveram razão, mas quem vai assistir somos nós, os espectadores, e eles são participantes involuntários da ação sangrenta, despoletada pelo tiro fatal de Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood), que Ford garantiu ter sido escolha da androide, finalmente livre e consciente da sua realidade. Num monólogo arrasador da mesma personagem, já no primeiro episódio da segunda temporada, também ela garante que não é Dolores nem Wyatt – é ela própria. Mas será mesmo assim?

 

Ainda assim, o plano complexo de Ford não se resume a uma 'host', ou anfitriã, de «Westworld», mas a quatro intervenientes (pelo menos). Com uma visão diferente de Dolores, e com uma motivação mais 'humana', Maeve (Thandie Newton) quer encontrar a filha de uma narrativa anterior, rejeitando a ideia de que tudo não passa de uma construção. Para tal, vai contar com a ajuda de uma fonte improvável em que, ainda assim, não pode confiar cegamente. Será interessante perceber, perante a inevitabilidade de Maeve e Dolores se cruzarem, se a dupla de androides vai trabalhar em conjunto ou, em vez disso, temos duelo a ser 'cozinhado' para as próximas temporadas (ou até já para esta).

 

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O trio de androides à solta fica completo com Bernard Lowe (Jeffrey Wright), que é puxado para a frente da ação perante a ausência de Robert Ford. Ao jeito de um espião ainda sem causa definida, a não ser sobreviver, Bernard está confortável entre o grupo de humanos em fuga dos androides, capazes de matar humanos. Ainda que não seja percetível qual vai ser a consequência quando se cruzar com Dolores ou Maeve, cujas permissões lhe permitem controlar todos os 'hosts'. Jeffrey Wright promete, aliás, ser uma das maiores dores de cabeça da presente temporada, já que vai ser uma luta constante entre perceber se estamos na presença de Arnold, o ex-parceiro de Ford, ou, quando na presença de Bernard, em que temporalidade nos encontramos. É Arnold, ou na verdade é Bernard, algures no espaço de duas semanas de que não se lembra? Ou é Bernard já depois desta confusão toda? Aparentemente, não há 'outfit' da Dolores que nos valha para completar este puzzle antes da season finale.

 

No entanto, para quem achava que alguma destas três personagens era o centro da malfadada "Journey Into Night", há uma outra pronta a reclamar a sua importância. William (Ed Harris), outrora somente o misterioso Homem de Negro, também tem um papel a representar no último jogo de Ford. Antes com o mote de destruir Westworld e tudo aquilo que o parque representa, e cuja origem encontramos na sua juventude, tem agora o propósito de lhe escapar. Mas, apesar de todas estas pistas, qual será realmente o objetivo primordial de Ford, que regressa 16 meses depois do final da primeira temporada apenas como cadáver?

 

Como assim “Parque 6”?

 

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Desde «O Mundo do Oeste» (1973), de Michael Crichton, que a existência do Oeste previa também a presença de outros mundos. Em «Westworld», que conta com J.J. Abrams como produtor executivo, já tinha sido revelado o Shogun World, composto por samurais, e, agora, a presença de uma 'anomalia' no parque protagonista levantou o pano sobre a existência de, pelo menos, seis. Tal torna a discussão ainda mais ampla, sendo que o fio condutor de todo este esquema, feito negócio, é o lazer por parte dos humanos. Sem qualquer castigo ou julgamento, os 'guests', que pagavam para aproveitar aqueles parques de diversões, matavam, violavam e destruíam tudo sem qualquer hesitação. Num combate injusto, já que os androides, até ao momento, não conseguiam responder com a mesma violência. O sofrimento, tão real visualmente, era apenas parte do jogo.

 

Arnold, no passado, foi o primeiro a romper com Westworld e tudo aquilo que o parque representava. Após a morte do filho, o cientista começou a questionar a existência, e consciência, dos 'hosts' e orquestrou uma narrativa brutal que resultou na sua própria morte. Também Ford quis sair de cena com estrondo, ainda que as suas motivações e a 'música' a que tocam estejam longe de ser antecipadas. O final do primeiro episódio, que não vou revelar, é um passo fundamental para o que nos espera nos próximos episódios. Não porque nos traga respostas, mas sim porque levanta ainda mais perguntas…

 

E os fãs de «Westworld», já completamente programados por Jonathan Nolan e Lisa Joy, não têm outro remédio senão ver…