Colony: a Alegoria Perigosamente Real do Nosso Tempo
Demorou dois anos mas chegou: a distópica «Colony», protagonizada por dois rostos bem conhecidos do público português – Josh Holloway, de «Perdidos», e Sarah Wayne Callies –, estreia hoje, 17 de abril, no SYFY. Episódio duplo às 22h15.
Quando a série estreou, em 2016, poucos imaginariam que, dois anos depois, os Estados Unidos iriam ter um presidente que defende a separação do México com a construção de um muro. No momento em que «Colony» estreia em Portugal e noutros cantos do mundo, a narrativa de Ryan J. Condal e Carlton Cuse torna-se ainda mais pertinente e desafia o nosso próprio entendimento dos conflitos que nos rodeiam. Após uma invasão misteriosa, que é dada a conhecer aos espectadores progressivamente, a ação da série acontece fechada pelas paredes elevadas de muro que aparente ser intransponível – ou perigoso demais para correr o risco.
O casal Will (Josh Holloway) e Katie (Sarah Wayne Callies) tem uma vida tranquila, dentro daquilo que poderia ser entendido como tranquilo numa situação pós-calamidade. No entanto, desde cedo percebemos que a questão não é assim tão linear, com Will a tentar atravessar o muro para reaver um filho desaparecido e Katie a desafiar as proibições em busca de um bem essencial mas inacessível. A situação torna-se ainda mais complexa quando Will, com experiência militar, é colocado entre os espiões do poder instalado e Katie consolida o seu papel entre a Resistência. Nota para a presença de Peter Jacobson, de «Dr. House», como um dos homens-fortes do regime totalitário.
A narrativa sufocante vai ganhando ritmo e intensidade à medida que o puzzle se desconstrói e são adicionadas mais personagens ao conflito. Ainda assim, a forte componente de mistério, que tarda a desfazer-se, intensifica, por um lado, o papel do espectador – que tenta descodificar o que está a ver – e, por outro, a intenção clara de a série ficcional contribuir para a discussão real, com referências pontuais e metafóricas da realidade. Embora haja uma forte componente contemporânea, aliada também às décadas que os separam, é impossível afastar «Colony» de precursores como o 1984 de George Orwell ou The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwood, que entretanto foi adaptada a série.
Texto originalmente publicado na Metropolis, onde também vão poder encontrar uma entrevista com a coprotagonista Sarah Wayne Callies.