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Androids & Demogorgons

TV KILLED THE CINEMA STAR

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31 de Outubro, 2017

13 Séries Para 'Maratonar' no Halloween

Sara

A lista de afazeres do Halloween não é só composta por festas e disfarces. Assim como a generalidade das coisas que compõem o lado fantástico da vida - e os outros lados também-, o Halloween é uma boa desculpa para fazer uma maratona a 'sério' de séries. De modo a evitarem tropeçar em abóboras, ser caçados por bruxas ou encurralados por um gangue de fantasmas, o ideal é ficarem à frente do ecrã. No entanto, procedam por vossa conta e risco: há um Upside Down que provoca calafrios, um caçador ainda longe do seu «Silêncio dos Inocentes» e cidades repletas de segredos tenebrosos. O melhor mesmo é levarem um amigo.

 

Hannibal

 

 

Em terra de remakes e prequelas, quem tem criatividade é rei. O criador Bryan Fuller reinventa o passado de um dos vilões mais assombrosos da história da literatura e do cinema, Hannibal Lecter. Com três temporadas, esta é uma série que bebe muito do estilo de «Pushing Daisies», do mesmo criador, mas com um toque retorcido e macabro de malvadez.

 

Stranger Things

 

 

Uma das séries mais populares de 2016 regressou na sexta-feira, 27, com nove episódios de cortar a respiração. A alta velocidade, a nada pacata localidade ficcional de Hawkins mal tem tempo de assinalar o Halloween: não há tempo para monstros a fingir, porque os reais estão à espreita. Assim como, claro está, os míticos anos 80 e o imaginário que estes transportam.

 

American Horror Story: Cult

 

 

Qualquer uma das temporadas de «American Horror Story» pode ser o cenário ideal de uma noite recheada de suspense e terror. Na sétima, atualmente no ar, a ambiente de Brookfield Height desenha-se com o traços obscuros de fobias, intensificadas pela eleição de Donald Trump, manipulação e um culto. E muito mais que se vai revelando pelo caminho...

 

Mindhunter

 

 

Lançada numa sexta-feira 13 pela Netflix, provou ser um sinal de sorte - a nossa - num dia atormentado historicamente pelo azar. Com uma narrativa inspirada pelos procedurais que marcam a rotina televisiva, «Mindhunter» viaja ao passado para mostrar a mudança aguçada de paradigma que permitiu ao FBI estar à altura dos serial killers. Uma viagem imprópria para cardíacos.

 

Wayward Pines

 

 

Quando um agente dos Serviços Secretos é incumbido de investigar um caso misterioso nesta localidade aparentemente banal, não adivinha onde se vai meter. Com contornos de um mistério sórdido, que se esconde mais do que se revela, Wayward Pines é o palco arrasador de uma luta inesperada - e de vida ou morte.

 

Twin Peaks

 

 

Sejam as temporadas dos anos 90 ou o regresso assinado (novamente) por David Lynch e Mark Frost este ano, «Twin Peaks» é sempre uma boa série para fazer maratona. Cenário de um dos enigmas que mais tem assombrado os seriólicos, a localidade representa um desafio constante à forma como encaramos a ficção, a realidade, e tudo o que se encontra, e fica, pelo caminho.

 

Penny Dreadful

 

 

Quase que bastava o elenco galáctico para nos convencer a ver «Penny Dreadful», mas as suas personagens e narrativa também são do outro mundo. Um reavivar dos pesadelos, com raízes profundas no folclore e no terror, ambientado na Londres Vitoriana e no confronto intemporal entre os caçadores e os fantasmas que tentam travar.

 

Witches of East End

 

 

Uma das sugestões mais soft desta lista, é uma fantasia composta por muita magia, comédia e... falta de jeito. Apesar de o ciclo não ter sido completamente fechado - a série foi cancelada após duas temporadas -, esta é uma narrativa fácil de ver e com a dose certa de terror para quem foge a 'sete pés' do género.

 

Hemlock Grove

 

 

Um homicídio brutal que dá início a uma perseguição sem igual. Uma narrativa que joga com os géneros de terror, crime e drama para 'pintar' uma realidade alternativa medonha. Não há mistério sem senão, pelo que a resposta vai ser tudo menos rápida ou fácil. Os monstros saem à rua, mas nem todos usam um disfarce: há um bem real e nenhum dos habitantes está a salvo.

 

Slasher

 

 

Falar em localidades suspeitas conduz diretamente a «Slasher». Sara regressa à pequena povoação onde cresceu e onde os seus pais foram assassinados de forma terrível. O tempo passou, mas o terror continua bem presente e uma nova série de homicídios, idênticos, escancara as portas, nunca fechadas completamente, de um trauma inimaginável.

 

Carnivàle

 

 

Em 2003, a HBO lançou uma série que ameaçou a ténue fronteira entre o Céu e o Inferno. Aproxima-se uma guerra extraterrestre e, de forma inexplicável, duas pessoas aparentemente banais revelam-se elementos-chave deste confronto. O ambiente é o da Grande Depressão, que marca o reencontro - e convívio 'amigável' - entre os fantasmas da ficção e da História.

 

Lore

 

 

O que acontece quando se junta um produtor-executivo de «The Walking Dead» a um produtor-executivo de «Ficheiros Secretos»? A resposta é dada em «Lore», a (re)imaginação do universo criado pelo podcast de Aaron Mahnke, que analisa acontecimentos suspeitos que construíram e alimentaram alguns dos nossos maiores pesadelos. Todas as lendas têm a sua parte de verdade...

 

Dark Shadows

 

 

Tim Burton levou para os cinemas, em 2012, «Sombras da Escuridão» (Dark Shadows, título original), um filme inspirado numa série com o mesmo nome dos anos 60 - que, por sua vez, já tinha merecido um remake em 1991. Integra esta lista a série estreada em 1966 - e terminada em 1971 -, que conta as aventuras tenebrosas da abastada família Collins. No centro, como sempre, está Barnabas.

 

 

Boa maratona!!

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30 de Outubro, 2017

Aluga-se Blog #2 - Peaky Blinders, por Filipa

Sara

Sou a Filipa, super feliz por ter encontrado um espaço para alugar. Os arrendamentos estão pela hora da morte. Tenho Netflix Premium. Não dou a password. Façam o favor de entrar.

 

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Não vou mentir. Já me tinham falado desta série mas nunca prestei a mínima atenção. Não me orgulho de admitir que só o fiz quando soube que o Tom Hardy entrava na segunda temporada. Lá fui directamente ao início dessa temporada (atentem no pormenor de nem sequer ter começado pela primeira), para ver se o Hardy ficava bem vestido de judeu de início de século XX.

 

Lá começa com um funeral. De quem? Não sei. Surge o protagonista de olhos azuis. "Olha o Agostinho falta de ar daquele filme no avião. Só me faltava este". A meio do terceiro episódio, pus em pausa e pensei: "Ok. Isto é bom. Isto é muito bom. Se calhar é melhor ver desde o piloto". E foi a última vez que alguém me pôs a vista em cima durante um par de dias.

 

Enquanto os Estados Unidos se debatiam com a Lei Seca, a Inglaterra está a sair da Primeira Grande Guerra. O palco é Birmingham. Esqueçam Londres. É em Birmingham, na classe operária, por entre um cenário industrial, que se sente o verdadeiro peso desse ano de 1919 onde uns morreram e outros regressaram. E não há melhor época para o surgimento de gangues. O bom de Peaky Blinders é que se baseia na vida real. Estes tipos existiram mesmo. A série é uma versão muito superficial do bando. O nome vem das lâminas que usavam na pala das boinas. Uma cabeçada no adversário e os olhos destes ficavam cobertos de sangue. Pelo menos, é esta versão que o produtor, Steven Knight, seguiu.

 

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Cillian Murphy passa do "Gajo com cara esquisita do coiso do avião…Como é que se chamava o filme? Red?" a "actor genial" num curto espaço de tempo. Arrisco-me a dizer que será o melhor papel dele até à data. A rodear o cabecilha da família cigana, está um elenco de luxo onde constam nomes como Sam Neill, Helen McCrory e Paul Anderson. Basta lembrar que os filmes de Agatha Christie são a versão britânica dos Morangos com Açúcar, onde muitos actores iniciam a carreira televisiva. Isto são actores habituados a palcos e nota-se.

 

"Ciganos? Mas são tão brancos". Primeiro, isto é Inglaterra. Segundo, vão à Wikipedia que eu não dou aulas de História. Terceiro, Brad Pitt no filme Snatch. Não é só a convulsão social do pós-guerra e a criminalidade que são retratados. A xenofobia está presente. A questão da Irlanda já é pertinente. O papel da mulher na sociedade é transmitido de forma exímia pelas personagens femininas da família Shelby. Se como eu, acordaram esta semana para descobrir que a violência doméstica pode ser justificada nos tribunais portugueses, vão adorar a Tia Polly, a Ada e a Esme. De copo na mão, aí vão elas para o fórum lutar pelo voto.

 

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A BBC sempre nos habituou a excelência nas séries de época. Peaky Blinders não é excepção. Chega a exceder o patamar elevado. Da fotografia ao argumento, do guarda-roupa aos sotaques, está tudo pensado ao pormenor. Não é fácil retratar violência, crime, sexo, sem cair em algum tipo de vulgaridade. A série está recheada de tudo isso mas nunca ultrapassa uma certa elegância decadente.

 

Todas as temporadas de Peaky Blinders estão disponíveis na Netflix. Se não possuem o serviço, roubem a password a alguém. Levem boina.

 

Não quero ser "aquela pessoa" que vos manda ver a série x ou y porque é fenomenal. É meio caminhado andando para perderem a vontade. Mas… Vejam a série.

 

 

 

29 de Outubro, 2017

Conviction: Hayley Atwell merecia melhor

Sara

Se Shonda Rhimes desenvolvesse uma série sobre uma filha de Bill e Hillary Clinton, seria provavelmente parecida com «Conviction», talvez com um pouco mais de factor-choque e menos previsibilidade. Mas, apesar de ser uma série da ABC – e nos lembrar constantemente o universo de «Scandal» e «Como Defender um Assassino» –, não estamos em "Shondaland". A série, lançada em 2016 e (re)exibida pela FOX Life a partir de segunda-feira, 30, foi cancelada após um 'afastamento' progressivo e nada subtil. [Texto escrito aquando da estreia em Portugal]

 

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Hayes Morrison, interpretada pela brilhante Hayley Atwell, vem juntar-se ao leque de protagonistas femininas do canal norte-americano e, numa versão ficcional e hercúlea na linha de «Making a Murderer», tentará tirar os inocentes da prisão. A jovem advogada, filha de um ex-Presidente dos EUA e de uma candidata ao Senado – a lembrar os Clinton –, passa a encabeçar a unidade Conviction e, já se sabe, irritar todos aqueles que foram responsáveis pela condenação dos presos cujos casos voltam a estar em análise. Para castigar ainda mais a falta de originalidade da série, soube-se entretanto que, na terceira temporada de «Como Defender um Assassino», Annalise Keating (Viola Davis), terá uma equipa a defender pro bono quem não teria ajuda de outra forma.

 

Contudo, Hayes não assume as novas funções por vontade própria, mas sim porque Conner Wallace (Eddie Cahill), o procurador público, a usa como derradeiro golpe de marketing da sua unidade. Tudo porque ela começa a série atrás das grades, após ser detida por posse de cocaína, e Wallace, ameaçando um escândalo público, aproveita para desenhar um acordo que o favoreça. Mais conhecido pelo seu papel como Don Flack em «CSI: Nova Iorque», Cahill estava desaparecido desde «Under the Dome», sendo uma das agradáveis surpresas de um elenco muito promissor. Destaque também para o regresso de Emily Kinney, a eterna Beth de «The Walking Dead», Shawn Ashmore, de «Os Seguidores», e Merrin Dungey, de «A Vingadora». Já Manny Montana e Daniel Franzese, que conquistaram o público em «Graceland» e «Looking», respetivamente, também marcam presença entre as personagens principais.

 

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A ABC está claramente interessada em manter a londrina Hayley Atwell [que em breve será uma das estrelas da minissérie «Howards End», da BBC] – que apresenta aqui um sotaque americano perfeito –, apesar de ter cancelado «Agent Carter» ao fim de duas temporadas, mas a nova aposta do canal oferece-lhe um papel tão aumentado (e exagerado) que, na prática, acaba por ser redutor perante as suas capacidades. No primeiro episódio de «Conviction», Hayes consegue deambular por todas as variações da sua personalidade: apresentada de uma forma sexy atrás das grades, ela é uma pessoa revoltada e bastante calculista, mas depressa percebemos que tudo não passa de uma defesa e ela, afinal, até tem um bom fundo.

 

Não obstante, é profundamente irónico criticar a construção da protagonista quando Liz Friedman, uma das criadoras e argumentistas de «Conviction», já integrou a lista de produtores e escreveu para séries com personagens femininas muito fortes, como é o caso de «Xena – A Princesa Guerreira», «Orange is the New Black» ou «Jessica Jones». Mas a verdade é que a advogada Hayes Morrison se perde na falsa complexidade de ser uma "bad girl" com um bom fundo, que não revela a ninguém. O truque é antigo e, neste caso em concreto, está longe de resultar.

 

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A fórmula do "bad boy”/“bag girl" é das mais usadas em cinema e televisão e, se ainda ponderássemos dar o benefício da dúvida, temos a confirmação que é mesmo o caso quando, depois de uma conversa emocionante com a mãe Harper (Bess Armstrong), Hayes mostra o seu lado de filha amargurada e deixa escapar algumas lágrimas. Este é, aliás, um momento decisivo para a personagem, que deixa de ver a história de Odell (Maurice Williams), o condenado que tentava inocentar, como o caso de "apenas" mais um jovem negro e interessa-se por conhecê-lo melhor. A revelação é de tal forma profunda que, no final do episódio piloto, Hayes garante a Wallace que não a tem na mão como pensava e que usará a unidade Conviction para fazer justiça – indo, inclusivamente, atrás dos casos do procurador. Na prática, a hipérbole emocional, que revoluciona a um ritmo rápido a narrativa, reduz a redenção da protagonista a 40 minutos.

 

O piloto tem claramente o propósito de nos apresentar as personagens, criando expectativas perante o que se avizinha, mas isso acontece a um nível demasiado amplo. Cada elemento da sua equipa, que Hayes não pôde escolher, é um estereótipo de uma profissão ou de uma situação que, mais cedo ou mais tarde, trará consequências para a narrativa. Por exemplo, Maxine Bohen (Merrin Dungey), uma brilhante ex-detetive da NYPD, filha de um membro exemplar da polícia, começa por defender a profissão a todo o custo, mas acaba por se render às evidências quando um ex-protegido do pai, Jim McNally (John Kapelos), revela o seu passado corrupto. Mais uma storyline com algum potencial que se decifrou logo no primeiro episódio...

 

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Por outro lado, não demorou muito a acontecer a sexualização da personagem. Sendo expectável, e até natural, numa série como esta, o constante uso do corpo de Hayley Atwell, seja através do choque ou de fatos provocadores, parece demasiado forçado. Além disso, a tensão sexual com Wallace, com quem a protagonista até poderá ter-se envolvido no passado, deixa desde logo adivinhar o que «Conviction» nos poderá reservar no futuro. Perante o elenco que temos, é uma pena. Hayley Atwell já provou a sua versatilidade e potencial, mas, olhando para a série que ocupará a sua agenda nos próximos tempos, e caso o argumento não melhore ou se afaste dos traços de “novela”, será [e foi mesmo] um desperdício de talento.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

27 de Outubro, 2017

Stranger Things: Um Novo (E Igualmente Assustador) '1984'

Sara

Monstros, 'putos' com talento e uma carta de amor exacerbante aos anos 80. E aos filmes dessa década mágica que alimentaram a nossa imaginação. «Stranger Things» é isto, e muito mais. Uma das melhores séries de 2016 regressa (finalmente!) esta sexta-feira, 27, à Netflix.

 

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"Darkness falls across the land/The midnight hour is close at hand/Creatures crawl in search of blood/To terrorize y'all's neighborhood" [Thriller, Michael Jackson, 1982 – usada no primeiro trailer da segunda temporada de «Stranger Things»].

 

Os anos 80 carregam consigo uma dose absurda de fascínio e melancolia. Foi a década em que regressámos ao futuro, caçámos fantasmas, Elliott encontrou o extraterrestre, Harrison Ford consolidou o estatuto de durão (e sex symbol) – eternizado como Deckard, Indiana Jones e Han Solo – e se lançaram filmes de culto como «Shining» (1980), «Pesadelo em Elm Street» (1984), «O Clube» (1985) e «A Princesa Prometida» (1987). Foi também a época em que testemunhámos o nascimento das sagas Die Hard, Exterminador Implacável e Karaté Kid, e vimos Michael Jackson chamar o 'moonwalk' de seu em palco e na televisão. Totalmente enfeitiçados por esta década, os irmãos Duffer escreveram-lhe uma carta de amor épica em «Stranger Things» e nós – os 'geeks', os bebés dos anos 80, os saudosistas, os 'papa-maratonas', ou os (apenas) curiosos – fomos atrás.

 

Os gémeos e criadores Matt e Ross Duffer revisitam, na segunda temporada de «Stranger Things», que estreia a 27 de outubro, o ano em que nasceram, 1984. No entanto, pelo menos no mundo da ficção, é crónico que a viagem a este ano nunca é fácil: foi ele que inspirou a distopia – controlada pelo 'Big Brother' – 1984, que George Orwell escreveu em 1949; e foi nesse ano que Margaret Atwood, assombrada pela Berlim destruída pela guerra e separada pelo muro, escreveu O Conto da Aia, que seria publicado em 1985 – e que deu origem à série «The Handmaid’s Tale», a mais premiada nos Emmys de setembro. A julgar pelo final da temporada passada de «Stranger Things» e pelos trailers já divulgados, não se adivinha melhor sorte para os habitantes da ficcionalizada Hawkins, no estado da Geórgia.

 

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Renovada já para uma terceira temporada, a série da Netflix deverá terminar, segundo os próprios criadores, na quarta. Mas o conforto de não terem de lutar pela renovação não deu, ainda assim, descanso às personagens. Sabemos o que fizeram no verão passado, mas, com o Halloween – e o desconhecido – à porta, ninguém está a salvo do Demogorgon e companhia – e os dois trailers divulgados só abriram ainda mais o apetite. Do tabuleiro para o 'Dragon's Lair', de 1983, das incontornáveis máquinas de jogos arcade, Will (Noah Schnapp), Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) têm pela frente um novo monstro, com Will a manter uma indesejável ligação direta ao 'Upside Down'. Assim, tal como aconteceu em 2016, mal as personagens de «Stranger Things» se aproximam do pequeno ecrã, o hype trata do resto.

 

O artigo poderá ser lido, na sua totalidade, na edição número 54 da Metropolis.

 

26 de Outubro, 2017

The Good Doctor: Preservar o Legado de Dr. House

Sara

O drama médico mais promissor dos últimos anos marca o regresso de David Shore, o criador de «Dr. House», ao género que o consagrou. O piloto convence e «The Good Doctor» até já bateu «A Teoria do Big Bang» em termos de audiência, nos Estados Unidos. Estreou dia 25, quarta-feira, no AXN, às 23h10.

 

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Ainda não chegou a Portugal e já faz estragos lá fora. No passado dia 9 de outubro, o terceiro episódio de «The Good Doctor», da ABC, entitulado "Oliver", surpreendeu tudo e todos ao bater a titularíssima de audiências «A Teoria do Big Bang», da CBS. A história conta-se em poucas palavras: com 18.2 milhões de espectadores contra 17.9, «The Good Doctor» conseguiu, em semanas, aquilo que pouquíssimos conseguiram ao longo dos últimos 10 anos – destronar a popular comédia em confronto direto. A dar os primeiros passos no pequeno ecrã, a série criada por David Shore, o responsável pelo incontornável «Dr. House», encheu o peito e está pronta a enfrentar (e conquistar) até aos seriólicos mais céticos.

 

Mas desenganem-se, este não é o típico confronto de David contra Golias. A qualidade de «The Good Doctor», inspirada na homónima coreana de 2013, é inegável. Sobretudo se tivermos em conta que os dramas médicos são uma constante a cada nova temporada, mas a quantidade, pelo menos nos últimos anos, não tem encontrado correspondência na qualidade. Embora os bastidores dos hospitais continuem a habitar o horário nobre de muitos canais, apenas «Anatomia de Grey» e a britânica «Doctors» têm, na história recente da televisão, mantido a sua popularidade – «General Hospital» é um fenómeno à parte, já vai em 55 temporadas. No entanto, no rescaldo da saída de Shonda Rhimes da ABC para a Netflix, o destino de «Anatomia de Grey», estreada em 2005, pode assumir contornos trágicos… como acontece à generalidade das suas personagens.

 

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Passemos à premissa – arriscada e promissora – de «The Good Doctor». Se achava que o final de «Bates Motel» ia ditar o afastamento de Freddie Highmore, ou o seu regresso mais assíduo ao grande ecrã, surpresa: o miúdo maravilha que fez da prequela de «Psico» (1960) – «Bates Motel» – um sucesso está de regresso. Freddie interpreta o protagonista Dr. Shaun Murphy que, tal como acontecia com House (Hugh Laurie), promete ser uma verdadeira dor de cabeça para os colegas. Isto porque, apesar da sua reconhecida genealidade, Shaun transporta consigo os fantasmas de um passado traumático, e o risco de afetar irremediavelmente o futuro. Tempos opostos que se atraem como um íman, e que puxam Shaun de forma igualmente poderosa, deixando-o num limbo chamado presente.

 

E que presente é esse? Shaun é um cirurgião jovem em vias de ser contratado pelo Hospital St. Bonaventure – isto se o Dr. Aaron Glassman (Richard Schiff), o diretor, vencer a batalha hercúlea que tem pela frente: convencer os seus pares. Autista e com savantismo (síndrome do sábio), Shaun tem uma inaptidão crónica para interagir socialmente e, como seria de esperar, para trabalhar da maneira expectável. A lembrar uma utopia onde o Anjo Bom tem de coexistir com o Anjo Mau, Shaun tem de lidar com dificuldades aparentemente banais que, para ele, se vão revelar tão ou mais exigentes que o golpe preciso de um bisturi. No entanto, já vimos pela amostra em «Dr. House», de onde «The Good Doctor» retira muito do seu espírito, que nem sempre a normalidade oferece os melhores resultados.

 

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Em "Burnt Food", o primeiro episódio da série, o (pontual) realizador Seth Gordon empresta ao drama médico a suavidade que aplicou já em sete episódios de «Os Goldberg» e até em «Baywatch: Marés Vivas» (2017). Focado em cada um dos intervenientes como uma individualidade complexa, Gordon usa a câmara como um mero espectador, invasivo – ainda que colocado num ponto privilegiado, o que intensifica ainda mais a presença das personagens. Esta visão, saudavelmente manipuladora, acaba por beneficiar o argumento, acelerando os processos e a nossa perceção das personagens e do que podemos esperar delas. Por vezes são apenas questões pormenor mas, quando recebemos informações novas em catadupa, a determinação de Gordon é uma reconhecida mais-valia para o piloto. Além disso, o facto de se optar pela ilustração gráfica do pensamento de Shaun – tornando-a visível para nós – desmistifica o seu raciocínio e retira a magia da narrativa, pelo que, em contrapartida, a sustenta na lógica. E nós agradecemos.

 

«The Good Doctor» é uma lufada de ar fresco nas séries de temática médica e, também, numa rentrée televisiva recheada de ideias recicladas e super-heróis. Como extra, a série traz para a linha da frente, entre outros, um trio portentoso: a talentosa Antonia Thomas («Misfits», «Lovesick»), Nicholas Gonzalez («Sleepy Hollow», «Pequenas Mentirosas») e Hill Harper, que conta no currículo com passagens duradouras por séries como «CSI: Nova Iorque» (197 episódios), «Agente Dupla» e «Sem Limites». Sem grandes truques ou alarido, «The Good Doctor» quer reclamar o lugar que antes pertencia a «Dr. House», terminada em 2012, e que séries como «Chicago Med», «Code Black» e «O Turno da Noite» foram incapazes de ocupar.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

23 de Outubro, 2017

Aluga-se Blog #1 - Star Trek: Voyager, por Samafs

Sara

Aye, o meu nome é Samafs e sou a Capitã da U.S.S. Trekflix, quem é como quem diz: tenho uma nave onde exploro séries e filmes neste universo e a partir da qual vos escrevo sobre o que podem encontrar em cada mundo televisivo ou cinematográfico que visito.

 

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Perder-se pelo espaço nunca foi tão divertido (e desafiante!).

Durante 7 temporadas, de 1995 a 2001, Star Trek: Voyager viajou pelo quadrante delta, cerca de 70,000 anos luz (75 anos), de regresso a casa. É uma longa viagem, principalmente não sendo intencional – durante uma missão em busca de uma nave Maquis (organização paramilitar e grupo terrorista nos termos da Federação), a nave Voyager entra numa perigosa zona do espaço e, durante essa altura, é transportada juntamente com a nave Maquis para a zona da via láctea menos explorada pela Frota Estrelar, a uma vida de distância de casa e sem saber o que irá encontrar pelo caminho. Mas a Frota Estrelar não seria a Frota Estrelar se apenas quisesse regressar sem explorar, finalmente, o quadrante delta, certo? E é aqui que a viagem começa a ficar interessante.

 

Inimizades tornam-se companheiras de viagem e, eventualmente, amizades. Para regressar a casa, tanto a U.S.S. Voyager como a nave Maquis terão que trabalhar em conjunto – e é isso que acaba por acontecer. Mas até aqui nada de extraordinário, não é? Então vamos falar no que diferencia Star Trek: Voyager de toda a franquia Star Trek e de outras séries do género.

 

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Primeiro, e isto é importante, lembrem-se que a série existiu na segunda metade dos anos 90 até 2001. É importante reiterar isto porque é importante dizer: A Capitã da U.S.S. Voyager é uma mulher. Não apenas é a primeira mulher ao comando de uma nave na franquia Star Trek como é uma mulher a liderar um elenco nos anos 90. O nome é Kathryn Janeway e é interpretada por Kate Mulgrew (sim, a Red de Orange is The New Black!). A sua liderança jamais é questionada, as decisões são difíceis mas são tomadas e as suas características, enquanto capitã e enquanto pessoa, não são masculinizadas para ter de ser levada a sério.

 

E não, não foi nenhum favor de representatividade que o universo nos fez, porque a importante e interessante presença feminina não se fica pela Capitã: há mulheres em cargos de comando, tanto na nave como no universo, e personagens que são mulheres muito interessantes ao longo da viagem e que nos ajudam a explorar os mais variados assuntos através de um ponto de vista totalmente novo e completamente válido (e especialmente se mentalmente regressarmos aos anos 90). E por "variados assuntos" quero dizer mesmo tudo o que se pode querer ou se deve reflectir e debater em termos sociais, mentais, emocionais e até espirituais. Ao estilo dos procedurais – um episódio, uma história – a série explora, metafórica ou literalmente, assuntos como a escolha de ter ou não ter filhos, a violência na infância, crenças, sexualidade (feminina, até. E sem vergonha!), manipulação genética, questões psicológicas, (pós-)morte, crimes de guerra, direitos humanos, dualidade no que somos e no que fazemos e tudo o que a vida tem para reflectir se soubermos ver mais além de nós e do imediato. Não é apenas ficção científica, é filosofia acima de tudo.

 

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Star Trek: Voyager é, sem dúvida, a mais feminista de todas as séries da franquia e uma das mais feministas da altura (qualquer dia falaremos de Buffy e de Xena). E, por isso mesmo, é também a mais odiada. Mas enganem-se se acham que isso dita a qualidade da série. Pelo contrário e é por isso que a recomendo (mesmo para quem nunca viu Star Trek noutra vertente). Mesmo num universo como este onde a utopia está na inclusão de toda a gente, é difícil pedir que se aceite várias mulheres no comando sem questionar a sua liderança (pelo menos sem o fazer por motivos de género). E é por isso que ninguém pediu nada, a U.S.S. Voyager chegou, explorou e continuou durante 7 anos num universo de críticas para se tornar um clássico televisivo que merece ser explorado.

 

 

12 de Outubro, 2017

Inhumans: Não, Não é Tão Má Como Dizem - É Pior

Sara

Não se sabe, ao certo, quanto custou fazer «Inhumans», embora alguns rumores apontem para os 10 milhões por episódio. A ser verdade, estamos a falar de mais quatro milhões do que a média de «A Guerra dos Tronos» até 2014 e do mesmo custo por episódio da sexta temporada. É também o mesmo que «Friends» na sua exorbitante última temporada, ou tanto quanto «A Teoria do Big Bang», «Breaking Bad» e «Mad Men»... juntas! Só isto impressiona na nova série da Marvel.

 

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Depois das opiniões divergentes em «Punho de Ferro», da Netflix, e para que não restassem dúvidas relativamente às suas capacidades, o criador Scott Buck presenteia-nos com «Inhumans», a pior série da Marvel e uma das maiores hecatombes que a ficção conheceu nos últimos anos. Numa aposta inovadora, a ABC estreou a série nos cinemas IMAX, com um episódio duplo, e protagonizou um dos "roubos" mais descarados de sempre. As redes sociais inundaram-se de críticas e, ironicamente, quem acabou por beneficiar foram apostas como «The Gifted» e, eventualmente, as estreias da Marvel que se aproximam. A partir de agora, na hora de avaliar uma série do género, vamos colocar em perspetiva: é mau, sim, mas será tão mau quanto «Inhumans»? A série estreou oficialmente no canal TV Séries na passada sexta-feira, 6.

 

A nova série da Marvel é uma caricatura de si própria. As personagens são inconsequentes, os cenários são demasiado alegres (e acompanhados por péssimos efeitos visuais), os diálogos são aborrecidos e a realização, sufocada entre flashbacks inconsequentes e planos desequilibrados, é sofrível. Black Bolt (Anson Mount) leva o papel de galã de poucas falas à risca e não solta um "piu", já que o mínimo suspiro é capaz da maior destruição. Ironicamente, o silêncio também - destrói as escassas expetativas que ainda restavam. Por seu lado, Medusa (Serinda Swan) protagoniza aquela que é, provavelmente, a cena de luta mais surreal - pela negativa - da história recente da televisão. Sem se mexer, usa o seu cabelo para, qual anúncio da L'Oreal, nos deixar com uma inveja terrível daquele brilho e cor! Mas ela que partilhe o número do cabeleireiro dela com a irmã Crystal (Isabelle Cornish), que aquelas barras pretas nem na Lua se usam.

 

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Uma pessoa que, casualmente, se encontre a fazer zapping, arrisca-se a confundir «Inhumans» com  a série «Hawai: Força Especial». A ação também decorre, parcialmente, no Havai, neste caso em Oahu; e as cores garridas, com planos a sobrevoar a ilha, fazem lembrar um género bem diferente e, uma vez mais, contribuem para a descredibilização da narrativa. As reminiscências não se ficam por aqui, até porque uma das cenas com Gorgon (Eme Ikwuakor) parece diretamente retirada de «Marés Vivas», tal a dramatização do momento em que quase se afoga. Entre as ondas e a chegada heroica de um salvador inesperado, só faltou David Hasselhoff para terminar a pintura. Já o cão do tele-transporte, além da péssima conceção gráfica, evidencia as limitações de Isabelle Cornish... até a falar sozinha.

 

Nem Iwan Rheon safa. O ator consegue descolar-se, em mais um sinal da sua qualidade, do terrível Ramsay Bolton de «A Guerra dos Tronos», mas a separação só acontece a nível visual. Com muito fogo de artifício e pouca profundidade, Iwan interpreta novamente um descontente herdeiro "bastardo" - desta vez um humano num mundo de Inumanos - que não olha a meios para se sentar na cadeira do poder. O pobre irmão Black Bolt, que só muito raramente larga a mão de Medusa, lá sofre um golpe de Estado, de apoio popular, e, numa viagem supersónica, acaba numa rua movimentada de Oahu. Há, todavia, que dar o desconto ao cão tele-transportador que, mais habituado a outra gravidade, não acertou com as viagens espaciais e deixou as personagens centrais separadas e espalhadas pela ilha.

 

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Salvo raras exceções, o elenco é de fraquíssima qualidade e as interações entre as personagens são angustiantes. Cada linha de diálogo é atirada sem qualquer emoção, o que, a juntar às restantes fraquezas da nova série de Scott Buck, coloca mais uma vez as atenções na Marvel - mas não pelos melhores motivos. As apostas da Marvel surgem em catadupa e, no pequeno ecrã, parecem ter cada vez menos critério. Black Bolt é um protagonista que, sempre acompanhado por "amas" ou clichés mal conseguidos, não tem espaço numa televisão habitada - e observada - por gente grande. Além disso, toda a dinâmica que se constrói a partir da sede em Attilan é demasiado frágil e, segurada por pontas, parece pronta a desfazer-se a qualquer momento. Com tantos altos e baixos, somos transportados para desenlaces constantes que, em volte-faces previsíveis, voltam a colocar a ação em passo acelerado.

 

Em plena rentrée televisiva, com tanta oferta de séries novas - além das múltiplas maratonas possíveis -, «Inhumans» é de fugir. A intriga é banal e desenvolvida à mesma velocidade que Lockjaw, o tal cão tele-transportador, cruza o intervalo espacial. Sem qualquer profundidade, das personagens ao fio condutor que somos desafiados a acompanhar, a nova série da Marvel é o "8" do "80" em que se desenvolve o Marvel Cinematic Universe (MCU), que liga variadas histórias deste universo. Ao contrário de «Agents of S.H.I.E.L.D.», que tinha uma base bem mais sólida, não se adivinha uma reviravolta na recetividade a «Inhumans», que tem levado "porrada" de todos os lados. O lançamento em IMAX, aliás, destruiu o hype em torno da série e deitou-a por terra ainda antes da incursão no pequeno ecrã. O golpe de marketing inovador foi, na realidade, um tiro no pé.

 

10 de Outubro, 2017

The Gifted: É um Arroz de Marisco Sem Sal Para a Mesa 5

Sara

A vida de seriólico tem a sua dose de risco: séries canceladas, desilusões agudas e tempo perdido são alguns dos perigos já identificados. No meio das certezas, há uma cada vez mais inquestionável. Rentrée que é rentrée tem de ter, pelo menos, cinco estreias diretamente relacionadas com a Marvel e a DC. Depois de «Legion», eis que chega a segunda incursão no universo dos X-Men... sem X-Men. O que basicamente equivale a cozinhar sem sal: pode fazer-se? Pode, mas não vai ter o mesmo sabor.

 

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Desde 2008 que a Marvel, nomeadamente graças ao Marvel Cinematic Universe (MCU), tem criado uma linha narrativa consistente que, em paralelo, tem contribuído para um hype completamente incontrolável; e uma replicação cíclica de séries e filmes dentro do género. Embora tenha apostado no fenómeno televisivo depois da DC Comics, a verdade é que a Marvel depressa acelerou e tem sido praticamente impossível acompanhar o ritmo de lançamento de conteúdos novos. Muitos, aliás, somam ainda o ingrediente extra de estarem ligados, narrativamente, à principal saga da franquia, os Vingadores. À margem, todavia, continuavam os mutantes.

 

Já no corrente ano de 2017, Noah Hawley, que tem brilhando ao leme de «Fargo», arregaçou as mangas e criou uma série teoricamente utópica: «Legion». Sem vícios ou personagens reconhecidas dos X-Men, conquistou o público com uma aposta visualmente brilhante e esteticamente arriscada. O seu sucesso, ainda assim, está longe de ser um bom (ou mau) augúrio para «The Gifted», que estreou no passado dia 3 na FOX Portugal. Demasiado específica dentro do universo latente dos X-Men, com o qual partilha o conceito mas não as personagens mais populares, «Legion» é, efetivamente, um produto feito à medida dos fãs de Hawley - que não são, necessariamente, fãs de mutantes. E, além disso, o estilo peculiar do criador pode não agradar aos seguidores fiéis das comics e dos filmes.

 

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«The Gifted» é uma série de que não precisávamos - pelo menos da forma como nos é apresentada. 'Vendida' como mais uma incursão (falaciosa) no mundo X-Men, a série criada por Matt Nix não coabita sequer, à partida, com o mítico grupo. Ele surge como background, mais por hábito do que por necessidade da ficção, com a narrativa a ser moldada em torno de uma contemporaneidade onde eles desapareceram. Como tal, há em seu lugar uma espécie de Liga de Honra, com pouco brilho e interesse. Salva-se o elenco genericamente promissor, no qual se destacam os 'mutantes' Sean Teale, recém-saído da cancelada «Incorporated», e Jamie Chung, desaproveitada como Mulan em «Era Uma Vez». Não se salva é a fraca campanha de marketing, que se esfuma com a mesma velocidade com que Stephen Moyer se funde com a sua personagem mais conhecida, o Bill Compton de «Sangue Fresco».

 

Tudo em Reed, o bastião da família Stucker, lembra o vampiro por quem se apaixonou Sookie em «Sangue Fresco» - na vida real, Moyer e Anna Paquin acabaram, curiosamente, por casar-se. Desde o primeiro momento que Stephen Moyer surge no pequeno ecrã que serve de reminiscência - a cada passo, esgar ou até tom frásico - ao seu passado ficcional. É desafiante descolar as duas personagens, pelo que, a certa altura, se agradece o facto de ele não aparecer tanto quanto se esperaria de um protagonista. Poupa-nos a confusão e lá nos concentramos na trama novamente. Por sua vez, Amy Acker tem a ajuda da mudança de visual - face a «Sob Suspeita» -, mas é também ela castigada por uma série que, de natureza sombria, não almeja qualquer raio de luz. E nem os momentos de ação disfarçam o excesso e desequílibro de «The Gifted».

 

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A premissa de «The Gifted» não tem, para já, nada de especial. Ao mudar-se os envolvidos, temos uma das fórmulas base (e reclicláveis) da ficção: a vida de um dos 'heróis' muda irremediavelmente por ação de alguém próximo, forçando uma mudança. Em «Dexter», Debra Morgan (Jennifer Carpenter) andava atrás de um assassino em série que, afinal, era o próprio irmão Dexter (Michael C. Hall). Em séries como «Diários do Vampiro» ou «Arrow», as dinâmicas familiares servem constantemente de combustível à narrativa, enquanto em «Como Defender um Assassino» a teia de segredos faz o núcleo central funcionar da mesma forma. Não há, portanto, nada de bombástico no facto do procurador Reed Strucker, um pilar fundamental no combate anti-mutante, mudar radicalmente quando os próprios filhos revelam as suas capacidades sobrenaturais.

 

A velocidade com que tudo acontece no primeiro episódio, para colocar a narrativa de «The Gifted» onde os produtores querem, torna-se cansativa e prejudica não apenas o interesse do espectador, como também a consolidação individual das personagens. Vamos assimilando todas as informações a uma velocidade estonteante, ao mesmo tempo que estas pecam pela carência de profundidade e, quase à martelada, só abranda num cliffhanger que é consequência de uma série de acasos nada convincentes. Ou aquele grupo tem muito azar - o que, a julgar pelo ritmo com que isso acontece nos primeiros 43 minutos, deve, felizmente, ser impossível de manter até ao fim - ou é só falta de jeito. Matt Nix quer provar que não é criador de um one hit wonder só - apenas a sua «Espião Fora de Jogo» teve mais do que uma temporada -, ainda que o histórico não o favoreça. Mas, pelo menos, já deu para Stan Lee somar mais um cameo e tem o 'descanso' de não ser a pior série da Marvel da temporada - aí Inhumans não deverá ter concorrência.

 

 

08 de Outubro, 2017

Young Sheldon: Uma "Armitage" à Prova de Bullies

Sara

Tem cuidado com o que desejas, porque pode tornar-se realidade. Um dos spin-offs mais desejados da última década ganhou, finalmente, forma em «Young Sheldon». Aquela que é, para alguns, a personagem mais cómica dos últimos 10 anos - Sheldon Cooper, de «A Teoria do Big Bang» - tem agora a sua merecida história de origem. A antestreia aguçou o apetite, mas a série só começa (a sério) em novembro.

 

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Chuck Lorre, cocriador de «A Teoria do Big Bang», «Dois Homens e Meio» e «Vida de Mãe», juntou-se ao multifacetado Steven Molaro para criar uma origin story digna dos super-heróis favoritos do peculiar Sheldon Cooper, trazido à vida desde 2007 por Jim Parsons. O fato é trocado pelo laçarote e os super-poderes pelas super-picuinices, o que torna Sheldon uma das figuras mais difíceis de derrotar - já que tem um dom imensurável de vencer toda a gente pelo cansaço. Se isto falhar, há sempre a incansável Mary Cooper, pronta a defender o filho tão acerrimamente quanto defende a sua religião. Após Laurie Metcalf interpretar a personagem esporadicamente -  até já foi nomeada aos Emmys pela sua prestação em «A Teoria do Big Bang» - esta é reinventada, numa versão mais jovem, pela filha, Zoe Perry, que se poderá afirmar como o melhor side kick que um herói pode ter.

 

Bem sabemos que o mundo não é exatamente como Sheldon o vê, pelo que a sua ascensão a génio é muito menos romanceada do que ele a pinta. Do ensino primário diretamente para o 9º ano, onde está o irmão mais velho, Georgie (Montana Jordan), Sheldon Cooper prepara-se para enfrentar vários desafios para os quais não está preparado. E, como seria de esperar, não têm nada a ver com a exigência das disciplinas! Para começar, a obsessão de Sheldon pelo cumprimento das regras é antiga, e nem os professores escapam à sua 'fúria'. Além disso, tem um feitio nada fácil e socialmente inadequado, sobretudo se tivermos em conta o seu crescimento no conservador estado do Texas.

 

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Como um dos atrativos, a prequela «Young Sheldon» introduz uma personagem escondida, até agora, no passado: George Copper (Lance Barber), o pai de Sheldon. Apesar de a mãe - na versão de Laurie - já nos ter arrancado diversas gargalhadas, a verdade é que a família Cooper era, até agora, genericamente desconhecida. E, numa consequência quase fatídica, fonte de enorme curiosidade. É, assim, inevitável falar em hype quando uma série surge das sombras do sucesso de uma outra - tão lucrativa e tão bem consolidada na audiência; mas, como já vimos no passado, isso não é garantia de nada. Ainda assim, com uma temporada completa 'encomendada' logo após o piloto, as expetativas estão lá em cima.

 

Os típicos receios inerentes à prequela de uma série como «A Teoria do Big Bang» foram, parcialmente, esbatidos assim que soube quem seria o protagonista de «Young Sheldon». Iain Armitage vinha bem cotado de «Big Little Lies» e o seu vídeo adorável do Ham4Ham, onde 'rappava' as partes de Alexander Hamilton e Thomas Jefferson, era apenas mais uma prova da sua versatilidade. Verdadeiramente assombrosa, se tivermos em conta que estamos a falar de um ator que fez 9 anos em julho. E, depois do primeiro episódio, emitido pelo AXN Portugal na quinta-feira, 5, fica mesmo uma certeza: Iain Armitage deve relevar-se a melhor arma contra os bullies - dentro e fora do pequeno ecrã. Caso isso não chegue, não se esqueçam que o pai dele é o treinador da equipa de futebol americano... e o irmão dele é jogador.

 

05 de Outubro, 2017

This is Us: Como Quebrar um Coração em 43 Minutos

Sara

Lenços de papel para limpar as lágrimas, uma garrafa de água para repor os líquidos e um peluche para abraçar. É este o kit de sobrevivência salve-se-quem-puder para assistir a «This is Us», um golpe de simplicidade capaz de trucidar qualquer coração. A segunda temporada está aí e, como seria de esperar, são necessários apenas meros segundos para deixarmos cair a primeira lágrima.

 

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Se Valter Hugo Mãe escreveu A Máquina de Fazer Espanhóis, Dan Fogelman criou uma improvável máquina de fazer chorões. Ninguém resiste ao encanto de «This is Us», a arrasadora série da NBC que, há um ano, arrancou 18 episódios e duas renovações de temporada de uma só vez. Não sabíamos ao que íamos, mas a verdade é que fomos. E, imitando o 'jogo do telefone', fomos recomendando «This is Us» ao nosso círculo de amigos, como um bebé que se passa de mão em mão com muito cuidado. De forma tão eficaz que era impossível ficar indiferente ao terramoto provocado por um dos sucessos menos esperados da temporada televisiva e, uns meses depois, a FOX Life trouxe o tesouro menos bem guardado de 2016 diretamente para nossas casas.

 

É difícil falar de «This is Us» sem estragar o encanto da sua premissa. (Se não viram o episódio piloto vão já ver e venham acabar de ler o artigo depois.) Tudo se interliga de uma maneira tão simples, e ao mesmo tempo tão mágica, que no desfecho do primeiro episódio já estamos inevitavelmente encantados. No entanto, não há relações sem desgostos, pelo que a viagem comandada pelo criador Dan Fogelman é um turbilhão de emoções e, inevitavelmente, corações partidos. Numa altura em que se critica tanto a replicação de fórmulas e o esquecimento do papel do espectador, cada episódio de «This is Us» é uma lição apaixonante sobre como é possível marcar cada um dos elementos do público. A unicidade, essa, está na forma como cada um de nós sente.

 

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Para mal dos pecados de Miguel (Jon Huertas), é praticamente impossível não adorar Jack Pearson (Milo Ventimiglia). Ainda assim, é igualmente impossível evitar a curiosidade mórbida de querer saber como morreu esta personagem. Veja-se a corrida desenfreada da primeira temporada - pelo tempo, pelo espaço e por nós próprios - para depois Dan Fogelman nos tirar o tapete no último momento possível, como que troçando da ligação tão íntima que criámos com a ficção. Além disso, o golpe imperdoável na aparente perfeição partilhada por Jack e Rebecca (Mandy Moore) pôs um ponto final na utopia dos contos de fadas. Assim, de coração nas mãos, fomos obrigados a aguentar largos meses de hiatus.
 
E eis que aqui chegamos, ao ponto de onde julgávamos já ter saído. Não é preciso muito para, no lançamento da segunda temporada, voltarmos aos vícios antigos e acabarmos a sentir as lágrimas a escapar. O truque é fácil, aprendemo-lo ao longo de 18 penosos episódios, mas nem por isso aprendemos a contorná-lo. O regresso (possível) de William (Ron Cephas Jones) é um poema imagético, como é marca da personagem, que cimenta a sua influência na narrativa de «This is Us» e, por conseguinte, em cada pessoa da audiência. Todos nós, de uma forma ou outra, temos um William na nossa vida e, confrontados por ele numa altura em que não contávamos com isso, e com as defesas em baixo, somos, em segundos, lembrados do que sofremos no passado com a série da NBC. E de como isso se vai repetir novamente. (Raios!)
 

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Os Big 3 - Kate (Chrissy Metz), Kevin (Justin Hartley) e Randall (Sterling K. Brown) - chegam-nos, no presente, numa fase adulta, mas nem por isso mais resolvida. Nas suas inseguranças encontramos as nossas, enquanto as suas relações são um espelho improvável daquelas que partilhamos quotidianamente. No fundo, o que há de mais especial em «This is Us» é não ter nada de especial. Quer isto dizer que, embora o resultado seja avassalador, não há na narrativa, ou no respetivo fio condutor, nada de muito complexo: a sua simplicidade, que em vez de fraqueza vira trunfo, leva a que as surpresas sejam encontradas no pormenor ou, como na vida real, na sorte ou no azar que moldam os nossos dias. Sem clichés ou fórmulas evidentes, vamos para «This is Us» sem saber o que esperar. E, mesmo quando temos finais como o do último episódio, exibido em Portugal na quinta-feira, 28, não é certo que saibamos o que aí vem.
 
Em «Galavant», Dan Fogelman deu-nos música e, após o cancelamento desta, regressou decidido a 'vingar-se'. Embora já tivesse provado o seu valor, seria difícil prever uma entrada tão bombástica na rentrée televisiva de 2016. É aqui que entra o argumento mais firme de «This is Us»: o forte da série é o seu elenco e tem dois Emmys para prová-lo (e sete nomeações no total). Na cerimónia, Sterling K. Brown, que já na edição anterior tinha sido premiado por «O Caso de O.J. – American Crime Story», levou a estatueta de Melhor Ator de Drama, enquanto Gerald McRaney venceu na categoria de Melhor Ator Convidado.